2007/10/14
Respeito
Texto publicado na Caixa Fã
Respeito
“Depois de galhardamente ter defendido as suas cores, os Portugueses saíram do relvado de Guerland debaixo dos aplausos dos “All Blaks”.
Respeito meus senhores!”,
titulava o enviado especial do jornal L’Equipe ao jogo Nova Zelândia vs Portugal em Lyon no passado sábado.
Eu juntaria os 40 729 espectadores que enchiam por completo o Stade Guerland aplaudindo de pé a equipa portuguesa e exigindo uma volta ao estádio.
Jean-Claude Peyrin presidente da comissão médica da Liga nacional de Rugby de França temia pela integridade física dos portugueses ao afirmar que “á medida que o jogo fosse decorrendo, quando os níveis de descirnimento e auto defesa baixarem sabido que os Portugueses são generosos, poderão ultrapassar os limites da sua capacidade física, podendo, então, surgir lesões graves”.
Perante esta questão Jerry Collins, capitão dos All Blaks, respondia desta maneira. “Não vim aqui para levantar o pé, sou pago para jogar como jogo, não me vou retrair porque se fosse assim deixava de jogar Rugby. Isso não é respeitoso para com os portugueses.”
A equipa dos “All Blaks” que entrou em campo pesava mais 142 Kg que “Os Lobos.
No entanto a Nova Zelândia nunca utilizou o argumento peso. Nunca empurraram nem organizaram os seus temíveis “mauls dinâmicos”, tendo antes utilizado a técnica, a velocidade, e o jogo à mão, embelezando o espectáculo, embora sem nunca abdicar do seu rigor táctico.
Parafraseando um antigo jogador e treinador da selecção os All Blacks ganharam com elegância, classe e respeito.
A atitude, aliás, manteve-se depois do jogo com o convívio nas cabinas entre as duas equipas, uma “peladinha” com uma bola, desta vez redonda, que os portugueses ganham por 2-1 e um convite para jantar.
Falemos, então, de respeito.
Respeito dos jogadores pelos adversários e pelos árbitros, empenhando-se sempre ao máximo perante qualquer adversário e, em consequência não defraudar nem empobrecer o espectáculo e não contestando, em caso algum, as decisões da equipa de arbitragem.
Respeito dos árbitros pelos atletas ao exercer com eles um permanente diálogo pedagógico no decorrer do jogo, de modo a que o mesmo flua com o mínimo de interrupções e, ao mesmo tempo, punindo com rigor as violações às regras ou não pactuando com faltas grosseiras (faltas profissionais) que retiram beleza e movimento ao jogo.
Respeito da equipa de arbitragem pelo jogo e pelo espectáculo, ao solicitarem elementos externos de validação quanto existe a mais pequena dúvida sobre a validade de um “ensaio”, ao chamar ao diálogo os capitães de equipa chamando a atenção para a qualidade inferior do rugby praticado ou de jogadas consideradas mais violentas.
Respeito dos adeptos uns pelos outros e pelo jogo. Num estádio, os amantes de rugby misturam-se independentemente da equipa que apoiam. Os adeptos de rugby não assobiam o árbitro, não vaiam a outra equipa, aplaudem as boas jogadas independentemente de quem as faz e nas “ terceiras partes” convivem alegremente.
Pessoalmente, o momento mais arrepiante e emocionante da jornada, para além do inesquecível ensaio marcado por Rui Cordeiro foi assistir a um estádio completamente cheio, com todos os espectadores em pé e em silêncio, assistindo ao famoso “Haka” dos “AllBlacks”.
Em conclusão diria que o respeito é o ADN do Rugby.
Por tudo o que atrás foi escrito, sou FÃ incondicional do Rugby, d’Os Lobos e…dos All Blaks (rigorosamente por esta ordem).
Fernando Frazão
Respeito
“Depois de galhardamente ter defendido as suas cores, os Portugueses saíram do relvado de Guerland debaixo dos aplausos dos “All Blaks”.
Respeito meus senhores!”,
titulava o enviado especial do jornal L’Equipe ao jogo Nova Zelândia vs Portugal em Lyon no passado sábado.
Eu juntaria os 40 729 espectadores que enchiam por completo o Stade Guerland aplaudindo de pé a equipa portuguesa e exigindo uma volta ao estádio.
Jean-Claude Peyrin presidente da comissão médica da Liga nacional de Rugby de França temia pela integridade física dos portugueses ao afirmar que “á medida que o jogo fosse decorrendo, quando os níveis de descirnimento e auto defesa baixarem sabido que os Portugueses são generosos, poderão ultrapassar os limites da sua capacidade física, podendo, então, surgir lesões graves”.
Perante esta questão Jerry Collins, capitão dos All Blaks, respondia desta maneira. “Não vim aqui para levantar o pé, sou pago para jogar como jogo, não me vou retrair porque se fosse assim deixava de jogar Rugby. Isso não é respeitoso para com os portugueses.”
A equipa dos “All Blaks” que entrou em campo pesava mais 142 Kg que “Os Lobos.
No entanto a Nova Zelândia nunca utilizou o argumento peso. Nunca empurraram nem organizaram os seus temíveis “mauls dinâmicos”, tendo antes utilizado a técnica, a velocidade, e o jogo à mão, embelezando o espectáculo, embora sem nunca abdicar do seu rigor táctico.
Parafraseando um antigo jogador e treinador da selecção os All Blacks ganharam com elegância, classe e respeito.
A atitude, aliás, manteve-se depois do jogo com o convívio nas cabinas entre as duas equipas, uma “peladinha” com uma bola, desta vez redonda, que os portugueses ganham por 2-1 e um convite para jantar.
Falemos, então, de respeito.
Respeito dos jogadores pelos adversários e pelos árbitros, empenhando-se sempre ao máximo perante qualquer adversário e, em consequência não defraudar nem empobrecer o espectáculo e não contestando, em caso algum, as decisões da equipa de arbitragem.
Respeito dos árbitros pelos atletas ao exercer com eles um permanente diálogo pedagógico no decorrer do jogo, de modo a que o mesmo flua com o mínimo de interrupções e, ao mesmo tempo, punindo com rigor as violações às regras ou não pactuando com faltas grosseiras (faltas profissionais) que retiram beleza e movimento ao jogo.
Respeito da equipa de arbitragem pelo jogo e pelo espectáculo, ao solicitarem elementos externos de validação quanto existe a mais pequena dúvida sobre a validade de um “ensaio”, ao chamar ao diálogo os capitães de equipa chamando a atenção para a qualidade inferior do rugby praticado ou de jogadas consideradas mais violentas.
Respeito dos adeptos uns pelos outros e pelo jogo. Num estádio, os amantes de rugby misturam-se independentemente da equipa que apoiam. Os adeptos de rugby não assobiam o árbitro, não vaiam a outra equipa, aplaudem as boas jogadas independentemente de quem as faz e nas “ terceiras partes” convivem alegremente.
Pessoalmente, o momento mais arrepiante e emocionante da jornada, para além do inesquecível ensaio marcado por Rui Cordeiro foi assistir a um estádio completamente cheio, com todos os espectadores em pé e em silêncio, assistindo ao famoso “Haka” dos “AllBlacks”.
Em conclusão diria que o respeito é o ADN do Rugby.
Por tudo o que atrás foi escrito, sou FÃ incondicional do Rugby, d’Os Lobos e…dos All Blaks (rigorosamente por esta ordem).
Fernando Frazão
2007/10/06
O Fogareiro - Origem da Alcunha
Essa palavra «fogareiro»…
O meu sogro (João Ribeiro) foi chófer de praça em Lisboa nos velhos tempo em que se sabia sempre o preço de determinada corrida. Quando as camionetas chegavam todas vomitadas à Rua Cidade de Liverpool e o tejadilho estava cheio de cabazes de verga com os mimos da terra. Nascido em 1915, numa terra de profissionais do volante (Atalaia da Barroca – Sobreira Formosa), veio a falecer em 1983. Homem interessado nas palavras, chegou a participar com entusiasmo e algum dinheiro na compra de uma rotativa nova para o jornal «República».
Um dia perguntei-lhe a razão de ser da palavra fogareiro. Respondeu: «Sabe, isso chama a gente àqueles que andam sempre de fogo no rabo. O fogareiro precisa que a válvula seja puxada várias vezes para entrar ar e o petróleo subir. Pois a gente gosta de parar um bocado quando vai meter gasóleo na bomba ao lado da estação do Rossio e comer uma bifana no Beira Gare. Depois conversar um bocado e só depois voltar ao trabalho. Não somos fogareiros. Os fogareiros nunca páram para petiscar e só pensam na folha. Como diz o outro, não comem para não ir ao bacio. Fique-se com esta: todos os fogareiros são chóferes de praça, mas nem todos os chóferes de praça são fogareiros.»
É tudo uma questão de atitude perante a vida, concluo eu, tantos anos depois desta conversa dentro do seu velho Austin verde e preto, ali na Rua das Laranjeiras, ao pé do J. J. Gonçalves.
José do Carmo Francisco
posted by ms | 23:17
13.9.07
Um amigo leitor destas páginas, Fernando Frazão, enviou-me um mail que agradeço e tenho todo o gosto em publicar. Faz-me uma pergunta para a qual ainda não consegui resposta: a origem da palavra «fogareiro». Mas prometo investigar... Bem sei que o «jargão» não agrada a muitos taxistas. Pela minha parte não vejo qualquer conotação negativa e até já aqui escrevi um texto a este propósito, ao qual fui retirar a seguinte passagem: «Desculpem qualquer coisinha, alguns amigos que já fiz nas praças de Lisboa. Não gostam da palavra fogareiro? Paciência! Lido com ela há largos anos. É de família! Já aqui falei dos meus quatro tios fogareiros. Gente de primeira água. Gosto menos da palavra taxista. Não me soa bem. Mas à falta de melhor... Não me venham é com essa do técnico de condução... Por amor de deus!»
Em primeiro lugar quero dizer-lhe que muito aprecio o seu blogue. Tempos houve que, em conversa com amigos meus, se discutia se você era de facto um motorista de táxi. A qualidade dos textos não o indicaria (por razões, infelizmente, óbvias), mas a riqueza de pormenores das corridas apontava para que assim fosse na realidade. O tempo se encarregou de esclarecer a questão.
Escrevo-lhe em primeiro lugar para confirmar o post que tem o final em epígrafe [«E ainda dizem mal dos taxistas!»]. Viajo com frequência e nunca me aconteceu chegar ao aeroporto e encontrar taxistas mal encarados, mesmo quando, por vezes, a corrida é curta. Trabalho num banco relativamente perto e por vezes vou directo do aeroporto para lá.
Aconteceu ainda o ano passado que no regresso da Madeira, eu e a minha mulher tomámos um táxi do aeroporto para a nossa casa na Parede, tendo-me esquecido, no banco traseiro, de uma mala contendo a câmara de filmar e a máquina fotográfica. Alguns minutos depois, alguém começou a tocar nas campainhas do prédio. Obviamente que era o taxista tentando encontrar o casal que tinha transportado do aeroporto.
Fiquei tão espantado que nem esbocei o gesto de lhe tentar dar uma gratificação, nem identificá-lo, para mais tarde lhe agradecer. Aqui fica o reparo. Se lhe apetecer divulgue isto seu blogue.
Em segundo lugar gostaria de lhe perguntar se sabe de onde vem o «jargão» de fogareiro. Tenho 57 anos e sempre ouvi este designativo que muitos usam depreciativamente e outros, como você, com algum orgulho. Tenho procurado a origem do termo, mas até agora não encontrei qualquer explicação para a «alcunha».
Cumprimentos
Fernando Frazão
O meu sogro (João Ribeiro) foi chófer de praça em Lisboa nos velhos tempo em que se sabia sempre o preço de determinada corrida. Quando as camionetas chegavam todas vomitadas à Rua Cidade de Liverpool e o tejadilho estava cheio de cabazes de verga com os mimos da terra. Nascido em 1915, numa terra de profissionais do volante (Atalaia da Barroca – Sobreira Formosa), veio a falecer em 1983. Homem interessado nas palavras, chegou a participar com entusiasmo e algum dinheiro na compra de uma rotativa nova para o jornal «República».
Um dia perguntei-lhe a razão de ser da palavra fogareiro. Respondeu: «Sabe, isso chama a gente àqueles que andam sempre de fogo no rabo. O fogareiro precisa que a válvula seja puxada várias vezes para entrar ar e o petróleo subir. Pois a gente gosta de parar um bocado quando vai meter gasóleo na bomba ao lado da estação do Rossio e comer uma bifana no Beira Gare. Depois conversar um bocado e só depois voltar ao trabalho. Não somos fogareiros. Os fogareiros nunca páram para petiscar e só pensam na folha. Como diz o outro, não comem para não ir ao bacio. Fique-se com esta: todos os fogareiros são chóferes de praça, mas nem todos os chóferes de praça são fogareiros.»
É tudo uma questão de atitude perante a vida, concluo eu, tantos anos depois desta conversa dentro do seu velho Austin verde e preto, ali na Rua das Laranjeiras, ao pé do J. J. Gonçalves.
José do Carmo Francisco
posted by ms | 23:17
13.9.07
Um amigo leitor destas páginas, Fernando Frazão, enviou-me um mail que agradeço e tenho todo o gosto em publicar. Faz-me uma pergunta para a qual ainda não consegui resposta: a origem da palavra «fogareiro». Mas prometo investigar... Bem sei que o «jargão» não agrada a muitos taxistas. Pela minha parte não vejo qualquer conotação negativa e até já aqui escrevi um texto a este propósito, ao qual fui retirar a seguinte passagem: «Desculpem qualquer coisinha, alguns amigos que já fiz nas praças de Lisboa. Não gostam da palavra fogareiro? Paciência! Lido com ela há largos anos. É de família! Já aqui falei dos meus quatro tios fogareiros. Gente de primeira água. Gosto menos da palavra taxista. Não me soa bem. Mas à falta de melhor... Não me venham é com essa do técnico de condução... Por amor de deus!»
Em primeiro lugar quero dizer-lhe que muito aprecio o seu blogue. Tempos houve que, em conversa com amigos meus, se discutia se você era de facto um motorista de táxi. A qualidade dos textos não o indicaria (por razões, infelizmente, óbvias), mas a riqueza de pormenores das corridas apontava para que assim fosse na realidade. O tempo se encarregou de esclarecer a questão.
Escrevo-lhe em primeiro lugar para confirmar o post que tem o final em epígrafe [«E ainda dizem mal dos taxistas!»]. Viajo com frequência e nunca me aconteceu chegar ao aeroporto e encontrar taxistas mal encarados, mesmo quando, por vezes, a corrida é curta. Trabalho num banco relativamente perto e por vezes vou directo do aeroporto para lá.
Aconteceu ainda o ano passado que no regresso da Madeira, eu e a minha mulher tomámos um táxi do aeroporto para a nossa casa na Parede, tendo-me esquecido, no banco traseiro, de uma mala contendo a câmara de filmar e a máquina fotográfica. Alguns minutos depois, alguém começou a tocar nas campainhas do prédio. Obviamente que era o taxista tentando encontrar o casal que tinha transportado do aeroporto.
Fiquei tão espantado que nem esbocei o gesto de lhe tentar dar uma gratificação, nem identificá-lo, para mais tarde lhe agradecer. Aqui fica o reparo. Se lhe apetecer divulgue isto seu blogue.
Em segundo lugar gostaria de lhe perguntar se sabe de onde vem o «jargão» de fogareiro. Tenho 57 anos e sempre ouvi este designativo que muitos usam depreciativamente e outros, como você, com algum orgulho. Tenho procurado a origem do termo, mas até agora não encontrei qualquer explicação para a «alcunha».
Cumprimentos
Fernando Frazão
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