2009/01/05

Polémica 2009

O objectivo era mesmo e só desabafar.

O que tu escreves é o que tu pensas (nunca o interpretei de outra forma). O que escreves eu também o penso. Eu não estava era a referir-me à da evolução da humanidade, não falava em descrédito pela humanidade e não falava em regressões nem avanços. Eu não me preocupo se a humanidade está mais evoluída hoje do que ontem. Esse exercício é dificílimo e complexo demais para mim. Posso pelo meu bom senso pensar que: concordo contigo. (Sabendo eu que o bom senso muitas vezes se engana! Senão o sol girava à volta da terra.). Espero que este mal entendido, gerado pela não conclusão e pela falta de conteúdo substantivo do meu texto esteja esclarecido.

"Muitos homens acreditaram que estavam a tomar a atitude mais correcta só fizeram foi merda." Limitei-me a escrever o único senão de uma frase que é escrita como uma verdade, nada mais, de resto estamos de acordo. A contagem que sugeres não me leva a lado nenhum. Muito homens e mulheres fizeram tanto bem como mal na sua vida. É uma das características que faz os humanos diferentes do resto do mundo animal, essa capacidade de sermos contraditórios nas nossas acções e sentimentos, a capacidade de gerar ódio e Amor pelo mesmo objecto. Somos complexos demais para tal contagem…

O desabafo que tive é motivado por um sentimento de desilusão que sinto desde há muito. Vou tentar muito sinteticamente explicar, temo não o conseguir sem suporte a imagens, filmes, documentários, livros, para completarem o conteúdo com a substância que quero, mas sabendo eu que o receptor és tu pode ser que com o teu próprio conteúdo possas completar o que falta. Afinal já diz o povo que para “bom entendedor meia palavra basta”.

O escrito pode se chamar…

Desilusão

Eu fico desiludido quando vejo sociedades, instituições, empresas, pessoas que se entendem e entendemos como evoluídas, que tiveram acesso a educação, que em discurso defendem a equidade, que compreendem a importância da ética e deontologia das suas profissões…e que levados por motivos que podem ir desde o interesse pessoal, ao lucro da instituição que representam, serem levados a desrespeitar seres humanos, instituições e direitos que foram ganhos muitas vezes com o sacrifício de muitas vidas…

Por exemplo:
A sub-contratação nos países sub-desenvolvidos:
Do ponto vista de um economista isto é muito bom. Atrai investimento; dá postos de trabalho; o empregado por pouco salário que seja é melhor que não o ter e comer o arroz que tira da terra, ajuda a sociedade precária a sair do estado de sub-desenvolvimento. Do ponto de vista do gestor é igualmente bom, baixa os custos, downsizing…
O meu ponto de vista é humanista: as empresas na maioria das vezes “têm” valores que fazem toda a pompa em comunicar, (solidariedade, responsabilidade social, modernidade…). Enquanto instituição comunicam e afirmam aos seus consumidores certos atributos que os condicionam na sua acção (uma questão de coerência com os valores que assumem) Como tal, situações que vão contra os direitos humanos, direitos do trabalhador…( há muitas situações, neste momento vem-me muitas imagens, muitas geografias, várias empresas, vários ditadores…é triste, fazem-me chorar, enfim…), situações que vão contra toda a comunicação que essas empresas afirmam ao público tornando-se ou criminosas ou incoerentes com a sua própria palavra. O meu ponto de vista é o Humano e eu adoro este ser. Mas como disse gero sentimentos complexos e contraditórios em relação ao mesmo “objecto”. O economista tem razão e o gestor também mas eu dou ênfase a que na base da mudança dos meios de produção não está nenhuma intenção altruísta de ajudar o mundo, está simplesmente o objectivo de baixar custos, aumentar os lucros…

As marcas quando exploradas e interrogadas como eu as interrogo, dão numa lista considerável de informação a consumir. Eu desde que iniciei o meu curso que fui obrigado a conhecer a fundo as Marcas. As Marcas, levaram-me a muitos textos, que me aguçaram a curiosidade, sublinhei esses textos, que me levaram a muitos escritos (esta dos escritos retirei do texto que não me irritou apenas) documentários, livros, etc… depois do primeiro texto vão 7 anos de investigação que me ajudou a confrontar-me com imagens, discursos na primeira pessoa que originaram em mim algumas conclusões e principalmente sentimentos de desilusão, não com a humanidade mas para com situações e pessoas concretas.

Perceber que mais que uma empresa ou um simples nome, uma Marca pode ser tudo, desde uma pessoa, a uma música, um desporto, um país, sendo que, a maior parte são empresas com fim lucrativo. O que os Marketeers perceberam foi que: mais que um nome, país, empresa, uma marca deve ser compreendida como uma pessoa ou seja uma entidade com valores e personalidade. Simplesmente porque perceberam que o famoso target, identificando o tipo de valores que a marca representa na sociedade e percebendo que esses valores são os que possui ou ambiciona possuir geram nele um sentimento de identificação e também (como somos seres sociais que somos) a noção que os outros consumidores vão percepcioná-lo e conotá-lo com aquele tipo de atributos e características Logo, nós compramos x ou y para puxar para nós certos valores e transmitir aos outros o que somos. Se usarmos um pólo lacoste, um Mercedes e um I-phone somos uma pessoa de certo tipo social, personalidade, valores, etc...se usar um nokia, uma t-shirt Nike, e um Jeep sou outra… não é uma verdade absoluta á muita gente que compra ainda pela qualidade…mas para este texto não importa ir por aí.

Cada Marca, seja uma instituição, uma empresa, uma pessoa ou um país quando pensada gera em nós uma quantidade de associações que podem ser: características de personalidade, valores, atributos etc.
Se pedirmos a um grupo de pessoas para pensar na marca Alemanha por exemplo virá á sua cabeça uma quantidade de atributos qualidades e defeitos muito diferente da marca Brasil.
Importa agora distinguir que as marcas País são o que são, fruto de um percurso que não foi pensado, foi o somatório de muitas coisas que a conotaram com diversas características, de este modo estas marcas não desenvolveram uma estratégia para se posicionar na nossa mente, são marcas “ingénuas” (agora, os países já perceberam que são marcas e alguns já desenvolvem estratégias de comunicação para os posicionar na mente dos estrangeiros como país com determinadas características e para quê? Para atrair ou turistas ou investimento…).
O marketing está em tudo até no penteado do político. Sendo a missão do Marketing “perceber uma necessidade e satisfazê-la” se o guru que está por trás da campanha do Político de Direita disser que ele deve crescer a barba (aparada) porque está conotado com pessoas conservadoras ele aparece de barba aparada. Se for o mesmo guru, mas o candidato de esquerda, ele dirá: podes deixar crescer a barba mas não a apares. Porque uma barba assim, é mais á Che, Marx, mais Avante,e ele assim aparece. Nós observamos, identificamo-nos e compramos. (Exemplo puramente académico) Eu compreendo que o Marketing esteja na política mas não concordo que ele lá esteja (este dá outro escrito)
As Marcas na sua maior parte são cínicas e comunicam os valores que sabem previamente ser iguais ao dos consumidores que as vão comprar. Tudo o que é dito em forma de publicidade, comunicado de imprensa, tudo é pensado ao detalhe, o que sai sem ser pensado é o que foi fruto de uma notícia. As notícias como tu questionaste e bem ao Fernandes, são escolhidas mediante diversas premissas. Actualidade, interesse do público, impacto, blá, blá, não numa lógica deontológica (perfeitamente regrada e escrita) como deveria ser, simplesmente porque os jornais são empresas, logo esperam gerar lucro. (esta também dá outro texto extenso como estou a adivinhar que este vai ser). Tu estás certo, o Fernandes sabe que estás certo, o Administrador sabe que estás certo, mas quem faz a escolha é o lucro, a venda, a competitividade e a quota de mercado. Logo O Katrina é mais importante que o…

Como tu referes e bem no teu texto a humanidade não é um todo, é muitos, é a soma de muitas partes. Umas muito evoluídas, outras infelizmente muito atrasadas. Se a parte que teve a sua educação, crescimento numa sociedade atrasada comete atrocidades contra o ser humano, porque ainda não evoluiu o suficiente para perceber ou atribuir o valor de cada ser humano, nem compreender a importância da Convenção de Genébra, dos direitos do Homem, dos direitas da criança, dos direitos do trabalhador, eu percebo e compreendo que seja menos criticável. O que eu não compreendo e crítico, e é isso a origem do desabafo, é quando estas ofensas e crimes vêm de partes que são educadas, jogam golfe, usam colarinho branco…importa agora que se perceba que uma marca ou empresa é uma estrutura composta por várias pessoas, algumas, como os administradores (interessam mais porque são os decidem) passam por lá, mas não são de lá, assim como estas empresas não são dum sítio são entidades supra nacionais. Os accionistas não decidem, esperam o lucro. São os donos mas não decidem. Sei que esta frase tem muito que se lhe diga. (porque será que a Sonangol accionista de uma data de Bancos em Angola, outros temas que no fundo são o mesmo “ já dizia o outro que “na ciência, tudo está relacionado com tudo”) mas que para efeitos jurídicos e mediáticos serve. Quem tem culpa no BPN? Só ouço falar dos administradores, os coitadinhos dos accionistas só perderam dinheiro…
O que quero fazer provar é que é muito difícil de entregar uma culpa e é difícil que os colaboradores sintam uma culpa. Esta é diluída por toda a instituição. Percebo que haja muitas pessoas que são responsáveis por atrocidades que nem elas têm consciência ou noção do que as suas acções irão provocar.
Um exemplo prático: Aqui na DCM um grupo de trabalho discutia como comunicar a certo target de forma a aumentar a adesão ao crédito. Depois da crise do sub-prime, depois de debates que apontavam os bancos como importantes na educação financeira da sociedade e que os apontavam como responsáveis pela crise por estarem a comunicar e incentivar ao crédito constantemente…tendo estas pessoas a perfeita noção do que falo atrás, utilizaram ao máximo a sua inteligência para arranjar novas formas de incentivar ao crédito. O curioso é que não se sentem minimamente responsabilizadas ou culpadas com a situação grave que poderá nascer da sua acção, e porquê? Porque estão a responder a uma autoridade. Foi provado por psicólogos em experiência, que o ser humano quando mandado por uma autoridade é capaz das maiores atrocidades, simplesmente porque não foi ele que o decidiu fazer, foi uma AUTORIDADE (Posso descrever a experiência noutro texto). E o jogo do follow the leader como tu afirmas está no chamado consciente colectivo do ser humano. Desde que somos homens que há líderes…ainda em macacos já tínhamos líderes. E que remédio têm essas pessoas senão procurar soluções para vender crédito, estão no seu trabalho, o que vão fazer? Dizer estas razões ao seu chefe! Claro que não o fazem! Primeiro o seu ao fim do mês, a sua família os eu conforto, bem estar… O que eu digo e os psicólogos dizem é que o sentimento de culpa e responsabilização nem sequer é gerado porque existe a AUTORIDADE.
Se a instituição fizer merda esta também não sente culpa, afinal ela não é um humano é composta por humanos, como os humanos colaboradores não geram culpa porque foram mandados pela autoridade; como essa autoridade muitas vezes é demasiado poderosa economicamente, com muitos conhecimentos políticos e favores devidos e pensando na hierarquia de poderes… é difícil ser julgado. Muito menos se tiver importunado pessoas sem capacidade de se fazer ouvir, logo, estamos perante um longo encadeamento viciado onde ninguém tem culpa.

Muitas empresas são coniventes com diversos estados corruptos, ditatoriais... escapam-se à crítica e aos media através dos imensos gabinetes de relações públicas que têm omitindo os factos, escondem-se atrás da teoria económica que prova que o investimento estrangeiro traz ao país, (verdade em teoria) conseguem esconder-se porque sabem que os jornais não fazem notícia de coisas que são bombas do outro lado da cidade. E sabem que a maior parte das pessoas não se acham capazes de mudar o mundo, aliás não querem mudar o mundo, querem é mudar o sofá da sala.
Importa agora pensar, qual o retorno que algumas empresas entregam ao país que as acolhe? Aquele que lhes possibilita lucros ou pela mão de obra barata ou pela exploração das suas riquezas naturais. Qual a medida a proporção que é dada á sociedade/local vs o lucro gerado.
Poderão dizer: O que a empresa pode fazer se o estado daquele país é gerido por um indivíduo ou indivíduos corruptos? A empresa não pode fazer nada? Dá o dinheiro ele mete no bolso. Mentira e das grandes? Pode e muito. Pode se for consciente como o afirma na sua comunicação e os que mandam perceberem que só têm aquele investimento no seu país caso façam cumprir algumas regras, aposto que essas pessoas (que só fazem coisas se lhes tocar no bolso) as fazem na hora. O facto é que muitas vezes acontece o contrário, exactamente o contrário. Ouve alguém que disse que “o terceiro mundo existe para o conforto do primeiro”. É neste ponto que gostaria de introduzir a importância política que as Marcas têm hoje em dia. Como sabemos há três poderes: Económico, político/jurídico e religioso. O poder económico é o mais poderoso nos tempos que correm. Das 25 maiores economias do Mundo uma dezena são empresas.
É este o poder que certas empresas têm no mundo. Se forem entidades, com falsos valores, com o propósito de gerar lucro, com responsabilidades diluídas, podem se tornar entidades perigosas para o nosso bem estar geral. Se for verdade que o terceiro mundo existe em prol do primeiro, (frase que eu procuro contradizer desde há uns anos, mas cada vez mais me vejo obrigado a concordar), então, estas empresas vão continuar a querer um terceiro mundo e pouco vão fazer para mudá-lo, afinal o seu propósito é gerar lucro, isto era verdade até se auto intitularem “pessoas” com fortes acções de filantropia o que as obriga a no mínimo ser coerentes com o que dizem que são.

O que me custa e me importuna é as atitudes e actos versus os valores comunicados e conotados com os emissores, é só isto. Eu também tenho actos ás vezes incoerentes com aquilo que digo ser, quando os tenha sinto-me mal, quanto maior for impacto de má atitude, mais mal me sinto. Pois bem, sinto que há mais psicopatas (leia-se pessoas incapazes de gerar sentimentos, pessoas que quando o seu cérebro investigado, gera exactamente o mesmo sentimento quando lhe é dito as palavras: coelho ou violação) do que aquilo que imaginamos e há muitos que andam de colarinho branco.

Custa-me me ver que na base de todas estas informações que vou consumindo está o lucro. Custa-me porque: Seguindo raciocínio do cientista que tudo está relacionado com tudo, como de facto está, ou que o bater de asas de uma borboleta no oriente provoca um… Estando a acção política sujeita ao poder económico. Estando os países numa lógica de crescimento e competitividade. Estando o homem na busca intemporal do bem estar e conforto, vão-se adiando ou fechando os olhos a muitas políticas que devem ser implementadas.

Por exemplo:
Durão Barroso no discurso que fez numa sessão que tinha como grande pasta a discutir o ambiente e as políticas ambientais, tornou-se vítima dos acontecimentos da crise sub prime que tinha acabado de rebentar, o Durão começou o discurso que não consigo proferir literalmente mas que era algo deste género.
Apesar de estarmos todos neste momento preocupados e absorvidos com a resolução deste problema que pode influenciar milhões de pessoas não podemos descurar as políticas ambientais, pois podem a médio prazo influenciar muitas mais…facilmente se conclui a escala de valores da actualidade e a dificuldade do poder político face ao poder económico. E de facto ouve um desinvestimento nesta pasta. Isto, de facto, preocupa-me muito, porque todos os cientistas e biólogos afirmam que a bio-diversidade está em risco, as mudanças climáticas são duvidosas e por provar, o aumento das temperatura está por provar, mas os números de espécies em vias de extinção é assustador, e aumenta de ano para ano. Estamos à beira de uma crise sem precedentes e vítimas de tudo o que tentei explicar, atrás vítimas de nós, da nossa postura, da expectativa que temos para a nossa vida, da nossa cultura competitiva e consumista, e vítimas de uma culpa sem cara... E isto tem a ver com tudo porque:
Um cientista que não me recorda o nome num documentário da BBC e que não consigo reproduzir literalmente, disse. O mundo desenvolvido que se mostra altamente preocupado com as espécies, com o ambiente, com as florestas… não percebe que na origem desta desgraça está o mal estar do ser humano autóctone. Como posso eu explicar que não se pode matar gorilas no Congo quando aquelas pessoas os matam para terem dinheiro para viver e comer.
Como posso alertar e convencer pessoas que estão em habitações precárias no meio da selva que não devem matar os leões, quando estes para além de serem uma ameaça para a sua família, são uma fonte de dinheiro e uma hipótese de pôr comida á frente dos filhos, como posso criar uma consciência ambiental se essas pessoas não têm educação… primeiro cuidem de cuidar dos homens dos países onde estas espécies habitam e vão ver que muitos dos problemas deixam de existir. Sabemos nós que a maior parte da Bio-diversidade se encontra em países muito mal economicamente e em estados evolutivos ainda muito precários. Mesmo nós, tínhamos lobos, tínhamos! Apontam o dedo aos do Congo, manquem-se.

Uma analogia de outro cientista do mesmo documentário:
A bio-diversidade é um muro, cada pequeno tijolo é uma espécie. Podemos ir tirando uns quantos tijolos que a parede não cai mas se continuarmos a retirar muitos mais, toda a parede vai ruir.
Quem teve aquários sabe que a diferença de dois graus pode significar a morte de todos os peixes daquele mini habitat. Quem nunca teve hipótese de ter um simplesmente interpreta os dois graus como o seu corpo os sente. Dois graus de diferença não é nada! A minha desilusão vem deste exercício. O exercício que eu gostava que todos tivessem hipótese de sentir. O exercício que me desilude, porque sou um ser sensível capaz de sentir os outros humanos ou animais. Desiludido apetece-me gritar aos não são capazes de sentir os que são da mesma espécie. Façamos o exercício sentindo a peles dos outros, seja dos peixes, seja dos Quenianos, dos Sudaneses ou do vizinho. Estou desiludido porque esperava mais de certas pessoas, instituições e empresas que pertencem a mundos desenvolvidos, com informação, com bases éticas… estou desiludido que esperava erradamente que certas pessoas nunca conseguiriam ultrapassar ou melhor passar por cima do seu próprio eu, por cima de tudo o que sabem como correcto, em nome de uma autoridade, em nome do lucro, em nome de sei lá eu o quê. Eu estou desiludido porque esperava mais. E acontecem umas atrás de outras, provas e mais provas …a minha desilusão é descabida porque eu é que analisei e conclui mal o bicho homem. Há muitos exemplos que me desiludiram, abaixo escrevo o que me desiludiu mais neste contexto, desiludiu-me porque dele extrapolei muita coisa , e foi através dele e da investigação sobre o mundo empresarial e o impacto que tem nas nossas vidas que de facto há muitos homens que não prestam que só pensam no seu bem estar e conforto e que são capazes das maiores atrocidades apenas para satisfazer essa intemporal necessidade. Desiludo-me porque pensava e ainda penso que a educação e o avanço das sociedades entregava a todos os homens outros pesos na sua balança…

Esta foi a grande mentira vivida, em directo no dia, para muitos passou, para mim não. Podem falar dos motivos a ou b desta guerra, também me importa, mas que ela nasceu de uma mentira nasceu e isso desilude-me.
Mentira na ONU na pessoa de Colin Powel representando o governo dos E.U.A. justificando a guerra no Iraque. Importa-me isolar este acto histórico. A guerra pode ser pelo petróleo, pela geo-estratégia, por vingança do Pai Bush, por isto, aquilo ou aqueloutro, seja qual o motivo interessa-me, mas noutro texto não neste. Como pode um governo do país E.U.A em alinhamento com o governo de Blair manipular provas para alavancar uma guerra? Como é que isto é possível em pleno séc: XXI? Que se aproveitem da queda das torres para ter o aval da sua população para abrir ofensivas militares em alguns países que estão conotados com o terrorismo já é mau. Mas terem o desplante de forjar provas e mentir em plena sala da ONU é para mim o supra-sumo de todas as mentiras que vivi. (das provadas claro! Que há outras que sinto como falácia mas senão há provas, não as há) Importa-me porque desautorizou aquela que é das mais belas instituições que o homem originou… importa-me porque a partir da prova desta manipulação conclui que todas e muitas outras torias da conspiração ganham um sentido maior…importa-me porque segundo informação que recebi o General Powell estava contra esta acção e na mesma fez parte dela porque a AUTORIDADE o mandoum e porque ele estava demasiado envolvido, afinal é o Gen. Powell naõ podia dar numa de Ali.

O Muhamad Ali disse: essa guerra não é minha eu não vou. Gostava que fossemos todos assim…mas a balança tem muitos pesos, muitos mais que eu pensava existirem


A Salazarofilia fica ou da Salazorofobia fica para outro texto. Fecho este imenso desabafo que não pretende ser nada, pretende ser apenas ser aquilo que é: A forma como eu interpreto as coisas. Muitas coisas ficaram por dizer, principalmente factuais, mas que eu espero, como dito atrás que tenhas essas imagens na cabeça e que consigas sentir o que falo. Eu não odeio o ser humano eu amo o ser humano é por isso que me revolto e me desiludo, simplesmente não suporto as injustiças que vou vendo. Eu acredito no Robin dos Bosques, eu acredito que os mais fortes devem proteger os mais fracos, que os mais velhos devem ensinar os mais novos e que os que vêm mais que os outros lhes batam no ombro e nos mostrem o caminho. Por esta última frase te agradeço, porque me bateste muitas vezes no ombro e me mostraste o caminho, sem nunca e me teres levado pela mão, dando-me liberdade de apalpar e provar o meu caminho pelos meus passos, sentidos e razão. Obrigado, Pai.

"Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes mas, não
esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo, e posso evitar que ela
vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios,
incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos
problemas e se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no
recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter
medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para
ouvir um "não". É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo..."

Fernando pessoa o homem que fez o exercício de sentir os outros e teve capacidade de escrever a experiência, eu tento sentir como ele, escrever a experiência é que vai ser impossível

2009/01/04

SE FOSSE PARA ACABAR COM O HAMAS SERIA BOM

Subscrevo inteiramente

Ontem, os tanques israelitas entraram em Gaza. Saeb Erakat, um dos mais conhecidos negociadores da Fatah, disse à CNN: "Com o quê querem eles [os israelitas] acabar? Não temos [os palestinianos] Exército. Não temos Marinha. Não temos Força Aérea (...). Este problema exige soluções políticas, não soluções militares." Erakat não falou para a CNN em Gaza. É que ele, sendo da Fatah, não conseguiu encontrar soluções políticas para estar em Gaza. O Hamas arranjou soluções militares para expulsar Saeb Erakat e os da Fatah de Gaza.

O escritor Amos Oz é israelita e não é um falcão, foi um dos fundadores da organização pacifista Schalom Achschaw (Paz Agora). Dias antes da actual ofensiva terrestre israelita, Oz também foi entrevistado: "Vai haver muita pressão sobre Israel pedindo-lhe contenção. Mas não vai haver nenhuma pressão sobre o Hamas, porque não existe ninguém para os pressionar. Israel é um país; o Hamas é um gangue. Os cálculos do Hamas são simples, cínicos e pérfidos: se morrerem israelitas inocentes, isso é bom; se morrerem palestinianos inocentes, é ainda melhor. Israel deve agir sabiamente contra esta posição e não responder irreflectidamente, no calor da acção", disse Amos Oz.

Dois discursos de gente de braços atados, do palestiniano Saeb Erakat e do israelita Amos Oz. Um sabe que o seu povo vai apanhar com tanques (como esteve, durante dias, apanhando com bombardeamentos aéreos), sem ter Exército, Marinha e Força Aérea para se defender. O outro sabe que o seu país tem direito a defender-se, mas teme que essa defesa aumente a força do inimigo.

Não estou aqui a fazer de Pilatos, não lavo as mãos da questão. Estou absolutamente ao lado de Amos Oz. E sobre a intervenção dos tanques israelitas julgo-a pela eficácia que venha a ter. Se ela acabar com a flagelação (70 rockets e mísseis diários sobre cidades de Israel), irei considerá-la, à ofensiva israelita, uma boa acção. Se ela acabar de vez com o Hamas, o gangue, hei-de considerá-la uma excelente acção. Mas, infelizmente, temo que os tanques não venham a ser eficazes. Conheço a táctica do gangue. Refugiam-se atrás dos homens, mulheres e crianças inocentes, cuja morte - com os corpos passeados em histeria - é a sua melhor propaganda.

Reparo que Saeb Erakat não faz, como previu Amos Oz, pressão sobre o Hamas. Na verdade, eu também, como se viu acima, não faço pressão sobre Israel - sou solidário com ele. E, sobretudo, estou incondicionalmente ao lado de gente como Amos Oz, dos que consideram que morrerem israelitas e palestinianos inocentes é mau. Sabendo, digo-o com cálculos simples, cínicos e não pérfidos, que essas mortes inocentes só cessarão quando se matarem alguns, ou muitos (os que forem preciso), maus. |

Ferreira Fernandes
Jornalista - ferreira.fernandes@dn.pt

2009/01/03

BEST OF 2008

Tal como no ano passado, o Ípsilon publicou ontem o seu Best of 2008: livros, teatro, dança, música, exposições, cinema. A parte dos livros é o resultado das escolhas de um colégio de críticos [Francisco Luís Parreira, Helena Vasconcelos, Isabel Coutinho, José Manuel Fernandes, José Riço Direitinho, Luís Miguel Queirós, Manuel Gusmão, Margarida Santos Lopes, Mário Santos, Pedro Mexia e eu próprio] que votou os 22 títulos em baixo alinhados por ordem de pontuação:



A Faca Não Corta o Fogo, Herberto Helder
Assírio & Alvim

O Homem sem Qualidades, Robert Musil
Dom Quixote

O Romance de Genji, Musaraki Shikibu
Relógio d’Água

Livro do Desassossego, [Fernando Pessoa] Vicente Guedes / Bernardo Soares
Ed. Teresa Sobral Cunha
Relógio d’Água

Salónica, Mark Mazower
Pedra da Lua

Caos Calmo, Sandro Veronesi
Asa

Myra, Maria Velho da Costa
Assírio & Alvim

Diário de um Mau Ano, J. M. Coetzee
Dom Quixote

A Grande Guerra pela Civilização, Robert Fisk
Edições 70

O Jogo do Mundo, Julio Cortazar
Cavalo de Ferro

Contos Completos, Truman Capote
Sextante

Ela e Outras Mulheres, Rubem Fonseca
Campo das Letras

Odes, Horácio
Cotovia

A Seco, Augusten Burroughs
Bico de Pena

O Jovem Estaline, Simon Sebag Montefiore
Alethêia

Dicionário de Fernando Pessoa e do Modernismo Português, VV.AA.
Fernando Cabral Martins (org.)
Caminho

A Feiticeira de Florença, Salman Rushdie
Dom Quixote

Entre os Dois Palácios / O Palácio do Desejo / O Açucareiro
Naguib Mahfouz
Civilização

Correcção, Thomas Bernhard
Fim de Século

A Educação Sentimental, Gustave Flaubert
Relógio d’Água

2009/01/02

VAI SER UM ANO IMPAR!

Pois. Se calhar tens alguma razão quanto á superioridade,mas quanto a isso já tu próprio reconheceste que tens pouca pachorra, enfim, gostas de escrever corrido
Isso não é previlégio teu porque como tu dizes e cito "Sabes lá os ensinamentos ou conclusões que eu retiro da informação que recebo."
De facto não sei porque a única coisa que bem no fundo escreves são puros desabafos sem conteúdo substantivo.
Já agora e também como é habitual à semelhança do que escreves, leste muito depressa.
O que está escrito não é o que tu pensas é o que eu penso
Podes continuar com a irritação porque aparentemente foi a única coisa de geito que o meu mail provocou em ti.
Já agora lembras-te do que dizia o outro mail sobre o Salazar logo na primeira linha?Poupando-te trabalho dizia "Isto dá uma bela polémica". Agora relê o teu escrito sobre o assunto porque afinal fiquei sem saber qual é a tua opinião sobre o mesmo

Passando a ironia do "É uma conclusão difícil de lá chegar ( de resto em mau português, oops lá estou a ser arrogante outra vez") e depois de ler a parte da "Muitos homens acreditaram que estavam a tomar a atitude mais correcta só fizeram foi merda." relembro que muitos outros acreditaram e fizeram muito bem perguntando que sítio nos leva este tipo de argumentação? O próximo passo será concerteza contar o número dos que fizeram merda com aqueles que fizeram bem mas para isso contas sózinho e depois dizes-me o resultado.

bjs

PS: è pena que o meu texto não tenha tido da tua parte melhor atenção porque relendo o mesmo continuo a pensar que tem conteúdo suficiente para "trocar ideias baseado na equidade de raciocínio e intelecto".
Preferiste pessoalizar. Lamento.

VAI SER UM ANO IMPAR!

Olá.

Como habitual noto alguma superioridade no discurso. É recorrente. As duas primeiras frases, são nitidamente para me pôr num lugar de inferioridade intelectual. O que escreves é mentira e injusto. Provavelmente por ignorância tua. Talvez um dia possas ler um escrito meu e mudar de opinião. Sabes lá os ensinamentos ou conclusões que eu retiro da informação que recebo. Manca-te!

Devias ter parado na questão que fazes a seguir. Afinal, não é disso que te queixas? Teria sido mais inteligente da tua parte. Eu explicava melhor mas não! Presumiste o que penso. Poupava-te o trabalho de escrever os 4 parágrafos seguintes.

Para quem diz fazer parte do clube humilde de quem reconhece ter uma falta de informação importante, tens uma postura um pouco arrogante.
É importante não confundir o "só sei que nada sei" com o cepticismo. Muito obrigado por este alerta. É uma conclusão difícil de lá chegar .

Acreditar que, quando estamos a fazer alguma coisa ou a decidir sobre qualquer assunto estamos a tomar a atitude mais correcta no momento e na circunstância, é aquilo que mais contribui para o tal "avanço", sendo certo que não fazer ou não decidir é a "não solução". Muitos homens acreditaram que estavam a tomar a atitude mais correcta só fizeram foi merda. Acho que percebo o que pretendes dizer mas o que dizes como verdade absoluta tem uma mentira.

Se queres rebater o meu cepticismo primeiro procura saber que teorias, instituições, informação geram em mim esse cepticismo . Tu confundes: eu sou céptico em algumas questões. Pelo: eu sou céptico.

Se queres trocar ideias baseado na equidade de raciocínio e intelecto, fazemo-lo. Se queres dar-me lições. Procura saber sobre que matéria queres dar essa lição, o que me escreves no mail não me acrescenta em nada, o tom só irrita e tira a vontade a qualquer um.

Musica para 2009 - Stand by me

VAI SER UM ANO ÍMPAR!

Olá

Esse tom de desilusão, de descrédito e de impotência que escorre dos teus escritos é na maior parte dos casos pouco ou quase nada fecunda.
Gostavas de escrever como o Fernandes mas não trabalhas minimamente o que escreves, tens ideias mas não retiras nem ensinamentos nem conclusões.
Afinal, não é disso que te queixas? Que não se colhem lições, que se repetem os erros, (coisa que em termos de Humanidade não existe) que não se aprende nada, coisa que é profundamente injusta para com muita gente contigo incluído.
Como se aprende nos bancos da escola (principalmente na "tua" escola) a dinâmica dos grupos não corresponde ao somatório das vontades individuais, sendo também verdade que as contribuições individuais, não passando disso, são muitas vezes determinantes .
O Lenine dizia que "...é na resolução das contradições que o processo avança..." e avança sempre, mesmo que algumas vezes pareça que retrocede. Repara que não é por acaso que a palavra "avança" é usada porque é despida de qualquer conceito moral. O Mao aproveitou este conceito para (no seu próprio julgamento moral), para elaborar, subordinado-se ao tema estratégico "Dois passos em frente um à retaguarda" sendo certo que estava a percorrer o seu próprio caminho que, obviamente, a História assim não o considerou.
É ela que é o Juiz Supremo. Os caminhos pessoais ou colectivos que "não deram certo" são os "maus" apenas por isso mesmo.

Apenas um fait-diver - um dos temas mais apetecidos dos escritores da chamada Ficção Cientifica é a dos Mundos Paralelos, que consiste no exercicio intelectual de "pegar num facto "que não certo" e "construir um Mundo onde "tivesse dado", como por exemplo a descoberta de teleportação, da Pedra Filosofal ou da efectivação de uma Guerra Nuclear nos tempos da Guerra Fria (acho graça àquela de ser preciso outra Grande Guerra para a coisa avançar).

Os motivos pelos quais avança, são sempre e, serão sempre os mesmos, porque os valores básicos que nos movem existem desde que nós existimos.
Estamos a falar de Poder (quer no conceito estrito, quer no conceito lato), Liberdade, Conforto, Bem-Estar, etc.
Para obter estes desideratos, são muitas vezes atropelados os valores dos vizinhos do lado ou de longe na dimensão planetária. Uma vez protestei com o José Manuel Fernandes sobre a diferença de tratamento dado pelo Público à catastrofe do Katrina em New Orleans e do terramoto no Afeganistão onde morreram milhares de pessoas, perguntando-lhe se as vidas afegãs eram dispensáveis. Respondeu-me que "um tiro no quintal do vizinho ou do amigo é mais importante que uma bomba do outro lado da cidade". Como deves imaginar abstive-me de manter a polémica.

Esta questão é muito importante porque liga directamente com a determinação daqueles que seguimos.

"Follow the Lider" ou "Follow the Idol" é um jogo real que todos jogamos. A determinação do(s) Lider(es) é uma complexa elaboração individual que tem como ingredientes a educação, a evolução, interesses pessoais (mutáveis no tempo) , ambiente social, idade etc.
O mesmo se pode dizer quanto a abraçar uma ideologia ou uma linha política.
Esta construção é muitas vezes baseada em falsa informação, quando não ignorância, sobretudo porque, escrutinar a informação que nos chega dá trabalho e, muitas vezes, não traz valor acrescentado imediato.
O eudeusamento do Greenspan que durante anos foi transformado em "guru" apenas foi mantido porque estava a correr bem. Como o Lenine enquanto durou a URSS para os comunistas dos países não comunistas e por aí fora. Como todos os ídolos de pés de barro quando a coisa abanou o castelo caíu e até acredito que o homem acreditava naquilo que dizia (funcionava né?). Assim como a questão do Iraque não tem nada a ver com petróleo.

Quanto a não saber nada... bem vindo ao clube.
É importante não confundir o "só sei que nada sei" com o cepticismo.
Acreditar (não confundir com Fé) tem a ver mais com Vontade e Determinação.
Acreditar que, quando estamos a fazer alguma coisa ou a decidir sobre qualquer assunto estamos a tomar a atitude mais correcta no momento e na circunstância, é aquilo que mais contribui para o tal "avanço", sendo certo que não fazer ou não decidir é a "não solução".

Bjs

2009/01/01

SALAZAROFILIA / SALAZAROFOBIA

Gostei de ler. Não sei porquê dá-me para sorrir. Coisas que me vieram á cabeça enquanto lia:

O peso do presente tem muito mais força que o pesadelo do passado;
A memória é curta; a memória colectiva existe mas não para estes casos; se existisse essa entidade intitulada de humanidade, aprendia e não repetia os erros; mas essa entidade teima em não aprender…
O ser humano não evolui tão rápido como desejamos; há muitos de nós que não querem ser livres pensadores; nem sequer a liberdade; querem é ser bem governados, para terem a consequente boa remuneração; têm como objectivo comprar coisas boas que vêm nos anúncios e na garagem vizinha.
Autoridade? Quem, em que moldes, formas, métodos… não interessa. Ditador, 1º Ministro, Rei, por favor! Fala-me mas é do losango do Paulo Bento.

Quanto mais tiros no pé os representantes da Democracia forem dando, mais manifestações ignorantes de apoio ao “antigamente é que era” aparecem e mais ausência de votos existirão nas urnas. Também serve para os apoiantes da Monarquia Institucional apresentarem argumentações sustentadas na comparação…que o rei não ode se despedir nem acabar o mandato conforme lhe convém blá blá blá… que não importa para o assunto.

Adorei ler isto:
Na verdade, como no tempo de Salazar, o pano de fundo desta subserviência instituída em "consenso" é a escassez de bens, recursos e lugares e a enorme dificuldade em se ser independente em primeiro lugar do Estado omnipresente, e depois dos partidos, dos grupos e das coteries em segundo, terceiro, quarto e enésimo lugar. É por isso que ainda somos mais salazaristas do que democráticos, no fundo da nossa maneira de ser em público. É por isso que esta salazarofilia involuntária, mas real, atravessa a nossa vida pública de cima abaixo, da esquerda para a direita e vice-versa, enche a política, a comunicação social, o establishment literário e cultural.

Pois é mas dá tanto trabalho ser este elemento independente, livre pensador, contraditório… quantos estão dispostos a estar desta forma? Quantos que até tinham esta pré-disposição e foram moldados pelo meio? Como tu próprio sabes, esta postura dá trabalho. Há que lamber papel, ser inconformado, teimoso, curioso…

Acho que ainda estamos a depender de figuras autoritárias que nos liderem.

E a seguir pensei nesta frase que jamais me esquecerei:

“Preferes a Autoridade como verdade ou a verdade como autoridade”

João Frazão

SALAZAROFILIA / SALAZAROFOBIA



Na semana do Natal, na secção de História de Portugal da livraria da FNAC do Colombo, havia 38 livros expostos. Desses 38, 12 tinham Salazar na capa, em desenho, em fotografia ou no título. Se somarmos a esses volumes outros livros que são sobre o período do Estado Novo e sobre as suas instituições simbólicas, como a Mocidade Portuguesa, quase 50 por cento dos livros sobre História de Portugal que competem no precioso espaço de uma banca natalícia são sobre os 48 anos de ditadura. E, na sua maioria, já não são sobre a oposição à ditadura, mas sobre a ditadura, o ditador Salazar (Marcelo Caetano também está representado, mas com menos sucesso) e as suas instituições. Uma parte destes livros, se bem que pequena, é puramente apologética e uma parte maior é nostálgica, mesmo quando crítica. Na secção dos DVD também Salazar está representado, na sua vera efígie a negro, numa série documental. Na realidade, como todos os editores sabem, Salazar vende bem e, em tempos de crise, venderá ainda melhor.

Nas gerações que conheceram o regime do Estado Novo, a salazarofobia é mais forte do que a salazarofilia, pelo menos nas classes "altas", até porque é esse o discurso politicamente correcto que legitima a vida pública depois do 25 de Abril e porque o turnover geracional faz com que, na sua maioria, esses grupos sociais sejam constituídos pelos ex-jovens dos anos 60, a geração menos atingida pela doutrinação salazarista e mais insubordinada ao sistema de valores que a alimentava. Os jovens dos anos 30 e 40, a lei da morte foi-lhes diminuindo o peso na vida pública e na opinião. Com eles foi a salazarofilia de regime, parente pobre e menos coreográfico dos regimes totalitários de Itália e Alemanha, que nunca ultrapassou os anos 30 e deixou, depois do fim da guerra, instituições moribundas e anacrónicas como a Legião Portuguesa ou a Mocidade Portuguesa. A salazarofilia dos anos 50 era já mais da guerra fria do que a da "guerra civil europeia" dos anos 30 e, por isso, mais compatível com a democracia e com a "livre Inglaterra". A guerra colonial resumiu e deu algum alento a todas as salazarofilias anteriores, mas os tempos já estavam a mudar e, mesmo que Salazar odiasse a modernidade, o mundo estava já mais moderno, mais solto, menos estável, mesmo por detrás da formidável barreira da censura.

Por outro lado, fora das elites, tem crescido depois do 25 de Abril uma salazarofilia popular e não é só na figura emblemática do motorista de táxi que brada contra o mundo e que funciona, para quem não conhece o povo, como a vox populi. Esta salazarofilia é em grande parte uma reacção antipolítica, demagógica e justicialista relativamente a muitos aspectos da democracia política, aos partidos, aos "políticos", à corrupção existente e imaginada, à ineficácia e custo da democracia. Esta salazarofilia comunica à esquerda com o populismo anti-sistema, forte nos simpatizantes comunistas e na parte do PS que é popular e urbana e de "baixo". A comunicação social, pelo modo cínico como relata a política, sendo ela própria salazarofóbica, porque alinhada à esquerda, alimenta a salazarofilia popular com muita eficácia e não é só no 24 Horas, esse híbrido esquerda-direita que enche os olhos dos leitores de primeiras páginas nas bancas.

Um bom exemplo é este comentário deixado no Público sobre o que escrevi.

Charlatão! Por Anónimo - Lisboa

Ó cahralatãozinho: - então tem crescido uma salazarofilia depois do 25 de Abril? Não vês, ó charlatão, que é exactamente o contrário? Não vês que os charlatães, como tu, têm cultivado no povo uma salazaroFOBIA, charlatão? E agora o povo, já desenganado de vocês, aldrabões e charlatães, espoliado e na miséria, o que precisa mesmo é encontrar uma solução para as suas vidas? As vidas de cada um de nós estão muito difíceis e vocês, aldrabões e charlatães, têm também muita culpa nisso. CHARLATÃO! E publiquem este comentário, se forem gente honesta,... e tiverem valentia para isso.

Nos mais novos, com uma presença forte nos blogues, o que aflige na salazarofilia intelectual que por lá emerge é o grande peso da ignorância tomada como sendo a ausência de complexos sobre o passado e antiesquerdismo. Na verdade, é mais ignorância do que ideologia, a que depois o estilo de boutade e de comparação absurda para épater le bourgeois dá circulação. Um dia se fará uma antologia das mais estapafúrdias comparações dos blogues e nelas a salazarofilia chique terá o seu papel.


Relatório da Censura

Mas a grande fonte da salazarofilia nunca pronuncia o nome de Salazar e nem sequer tem consciência de até que ponto vem dele e dos 48 anos do Estado Novo. Essa fonte é a desconfiança da política, a obsessão do consenso, o nojo pelos "partidos" enquanto "partes", a vontade de um mundo higiénico em que todos se entendem, todos são "construtivos", todos fogem da polémica, todos pretendem passar pelos pingos da chuva democrática, para não aparecerem molhados e menores junto da multidão que louva os que habitualmente nunca sujam as mãos em nada. Ser polémico em Portugal é um óbice sério a singrar na vida, como essa frase exclusora inventada no interior dos partidos traduz: "Ele não serve porque tem anticorpos." Na verdade, como no tempo de Salazar, o pano de fundo desta subserviência instituída em "consenso" é a escassez de bens, recursos e lugares e a enorme dificuldade em se ser independente em primeiro lugar do Estado omnipresente, e depois dos partidos, dos grupos e das coteries em segundo, terceiro, quarto e enésimo lugar. É por isso que ainda somos mais salazaristas do que democráticos, no fundo da nossa maneira de ser em público. É por isso que esta salazarofilia involuntária, mas real, atravessa a nossa vida pública de cima abaixo, da esquerda para a direita e vice-versa, enche a política, a comunicação social, o establishment literário e cultural.


Precisávamos de mais liberdade, de muito mais crítica, de muito mais duro e persistente escrutínio, de muito mais rupturas, e estamos todos apaziguados com a nossa mediocridade. Salazar considerava que esse apaziguamento era o "viver habitualmente", na pobreza e no remediamento, com um chefe benevolente que nos protegia do mundo exterior e que dava uns "safanões a tempo" para nos proteger dos maus de dentro.

Até por causa da crise, da crise real e da "crise" que é usada para esconder o real, precisávamos de um grande abanão, mas nem para isso parece haver forças endógenas. O país estagnou há muitos anos e agora afunda-se pouco a pouco, sem sequer haver muita preocupação com isso. Parece que só os pessimistas, esses tenebrosos seres que "não trabalham e só criticam", "não fazem nada de construtivo e só dizem mal", na boca do tandem Sócrates-Santos Silva, se mostram, pelos vistos exageradamente, preocupados.

in Abrupto, 2009/12/29

VAI SER UM ANO ÍMPAR!

Adorava um dia escrever com esta classe, com este tom de quem não está muito interessado mas que se interessa, de quem não sente mas que avisa mandando umas ligeiras bem pesadas.

Alan Greenspan escreve no seu livro: …war on Iraq is for oil… jura! Mr. Greenspan do you know that the Geneva convention establish that´s illegal to invade another country over is national resources?
E se foi por medo de domínio do Sr. Saddam sobre tão rico recurso e o impacto que poderia ter nas economias mundiais porque não explicaram esse motivo ao mundo e tiveram necessidade de forjar provas? Foi para não ir contra a Convenção? Foi para motivar o povo a estar do lado do Governo Americano? Se já o mataram porque não se põem a andar? E uma instituição como o Governo, a CIA, mentirem na ONU não devia ter consequências maiores? Coisas que não me soam bem… Este senhor cheira a algo… se este contasse o que já viu e ouviu na sua vida é que me fazia um favor.

Gostava de perceber melhor a frase “Agora sei que sou um ignorante, sou, mas tal como Alan Greenspan”. Está-me a faltar aqui qualquer informação? Será que ele quer rebater o que disse, de nada perceber de economia chamando-se ignorante assim como Alan Greenspan, o Grande Alan Greenspan! Deve ser ironia.

Gostava também de não questionar tanto! Talvez tivesse o espírito mais tranquilo!

Depois de ler, Friedman sobre o s sistemas (FMI; Banco Mundial; Federal Reserve…) depois de ler livros de investigação jornalística, depois de sublinhar tanta coisa e confirmar na net, ouvir entrevistas no youtube e outros que tais, depois de filmes que contam histórias verídicas de processos políticos, guerras, espionagem, manipulação de informação, depois estudar muito as Marcas, as multinacionais, estudar gestão (máximo lucro pelo mínimo custo) depois de ler livros que revelam a nossa natureza, depois de ter vivido, depois de documentários, de programas como “toda a verdade”, depois de tantas e inúmeras peças que vou juntando na cabeça, começo a perceber que há muitas peças que não vêm, foram retiradas do puzzle. Vivo desde há uns tempos num estado de cepticismo não muito confortável para a minha tranquilidade.

Ontem por exemplo dediquei o meu ser incauto a procurar artigos, a descascar o Site da Shell, a ouvir e ver reportagens da CNN, Aljazira… no Youtube sobre a situação no delta do Níger.
Na constituição da Nigéria está escrito que toda a matéria-prima que for encontrada abaixo dos 6 pés de terra pertence ao estado da Nigéria. Que conveniente!

Eu não faço conversa deste tipo de assunto com ninguém porque simplesmente não estão nem aí ou não sabem do que falo ou pensam que sou um rebelde, um agitador, parece que sou algum bicho… já dou por mim a pensar que não estou bem.

Às vezes sinto-me sozinho nesta forma de estar e pensar. Tenho muito que aprender, o pior é que quanto mais sei mais vejo que não sei é nada.

Eu espero que em 2009 aconteça algo suficientemente prejudicial a todos que obrigue a reconstruir, a repensar…! Mais ou menos como aquelas teorias que uma guerra grande de vez em quando faz avançar a humanidade!

João Frazão

VAI SER UM ANO ÍMPAR!

VAI SER UM ANO ÍMPAR!


Ferreira Fernandes, in DN 208/12/31

Sim, há um ligeiro indício que me preocupa: um ano como este, 2008, que se inventa um segundo a mais, isto é, que retarda a sua saída de cena, um segundinho que seja, é porque suspeita que o que vem aí é mesmo mau. Mas esse mau pressentimento é varrido pela boa notícia: todos os economistas, todos, prevêem um 2009 desastroso. Acho que estou a respeitar as leis da lógica: se todos os economistas se enganaram completamente sobre os dias de hoje, é provável, sendo unânimes sobre o dia de amanhã, voltarem a enganar-se. 2009 não pode ser a repetição da Grande Depressão, não pode ser a crise funda, não pode ser a deflação sem saída, não pode. A prova que não pode? Os economistas dizem que só pode. O pessimismo generalizado dos economistas é a minha luz ao fundo do túnel. Eles, este ano, só me deram boas notícias. Incapaz de apontar uma taxa euribor (quanto mais indexá-la!), confundindo CMVM com um jipe com tracção a quatro rodas, sempre me julguei um caso isolado de iletrado em economia. Até este ano. Agora sei que sou um ignorante, sou, mas tal como Alan Greenspan. Permita que lhe digo, caro leitor, o que há para dizer: 2009 vai ser um ano ímpar. |