2010/04/21
O vulcão de nome impronunciavel
As autoridades identificaram que a nuvem causada pela erupção está a ter dimensões superiores devido aos Benfiquistas estarem a tirar o pó aos cachecóis.
2010/04/11
o chinaman e a extinção dos limites do multiculturalismo
Tirado e comentado daqui
É quase um axioma para qualquer cidadão ocidental minimamente atento que a melhor hipótese de sobrevivência de sociedades velhas e gastas como a portuguesa está na injecção de novo DNA. Deste modo, a militância activa pela opção multicultural está entre aqueles que considero como os meus deveres essenciais. Antes do mais, nas escolas, especialmente nas de elites, e no mercado de trabalho. Em termos muito rudimentares, a ideia é a de que integrar a diversidade enriquece toda a gente, e quanto maior conhecimento for adquirido por todos os diferentes, mais dinâmica fica a sociedade, isto é, todos nós. Além de que, claro, a uniformidade é monótona. Mas mais interessante ainda, dizem os teóricos, é conseguir a combinação quase mágica entre novo DNA e o melhor dos traços nacionais da sociedade acolhedora. Um palco de combate essencial para esta luta é o bairro, claro, já que inúmeros estudos científicos e empíricos mostram que a integração resulta sempre melhor quando o Outro é aceite numa pequena comunidade local, ou seja, a rua, o bairro, a zona. Daí que defender a vinda de imigrantes para uma sossegada rua de um bairro de classe média da ainda mítica mas muito abalada linha de Cascais tenha sido sempre uma aposta pessoal, embora, claro, levante periodicamente as sobrancelhas cépticas de muita gente. Na verdade, mostra felizmente a realidade, os cépticos podem beneficiar do conforto que é garantido pela imobilidade, e têm certamente a sabedoria de que as mudanças geralmente são perigosas, mas a realidade mostra que a sociedade portuguesa é uma daquelas que com maior eficácia consegue integrar toda a diferença, enriquecendo -se de modo decisivo. De facto, no espaço da minha latitude, os brasileiros, os angolanos, os ucranianos e especialmente o chinaman e o seu clã de geometria variável provam que os limites do multiculturalismo são extintos pela poderosa capacidade portuguesa de entranhar nos outros os seus valores básicos de modo rápido e eficiente . Os brasileiros foram recebidos de braços abertos, beneficiando daquela lenda de povo aberto, alegre, improvisador e easy going. É tudo verdade. É fantástico descobrir que aberto significa ter 23 "caras" a viver harmoniosamente num T0, contornando assim a crise económica, alegria que as dj sessions de forró são até às 3 horas da manhã para o bairro todo, o que revela um profundo sentimento comunitário, improvisador que o átrio do prédio sirva para abrir um restaurante de "churrasquinho", o que é um exercício notável de empreendedorismo, e easy going uma aventura impossível de descrever. Os angolanos foram uma aposta pessoal, por razões biográficas. O trio de rapazes que uma noite chegou teve isso em conta. A actividade mais integradora que periodicamente exercem é a de se pegarem à pancada às duas da manhã, com a porta do apartamento aberta, por causa do Benfica, do Sporting e do Amadora, e participam activamente nas culturas juvenis em alta, nomeadamente "kitando" e experimentando até ao nervo os Seat Ibiza durante a noite na nossa extensa rua de 150 metros. Os ucranianos, tenho de admitir, são o meu caso mais complicado. Uma família honrada e trabalhadora, com dois filhos à entrada da idade adulta. Mas, tirando o facto de terem colocado uma corda de estender a roupa que ocupa toda a largura do prédio, onde a cada 48 horas são colocadas três máquinas de roupa preta, o que prova aquele asseio alentejano clássico, não consigo detectar nenhum sinal integrador, até porque as minhas tentativas de meter conversa são sempre recebidas com um "pois, pá". Pelo contrário, o chinaman e o seu clã são o meu motivo de orgulho. Antes de tudo o mais, provaram que as linhas teóricas recentes de comunitarismo urbano estão absolutamente correctas, e abriram uma pequena frutaria de bairro. É extremamente porreiro, vizinho. As velhinhas, que já não se mexem, vão lá fazer o seu avio diário, aprenderam umas palavras de cantonês, e os jovens profissionais urbanos que chegam tarde a casa sempre sabem que às 20h30 ainda podem comprar uma bananinha para comer com o iogurte, ou uma maçã para enfeitar a pizza congelada. É verdade que a frutinha não dura mais do que 12 horas, e feitas as contas os preços são um negócio da china para o vendedor, mas é o imposto do local e da comodidade. Mas o que realmente me encanta é a carrinha de carga, que para mim é um símbolo notável de como o espírito português contamina de modo absoluto todos os que vêm de fora para lutar pela vida. O chinaman, como todos os pequenos empreendedores nacionais de comércio e serviços, têm uma grande carrinha de carga branca, daquelas com uma altura de um 1º andar. Ora, o chinaman tinha um problema: a sua frutaria é na esquina, tinha de descarregar diariamente o material, e como todos nós era afectado por aquela grande calamidade nacional de nunca ter lugar para estacionar mesmo à porta de casa. A princípio, o chinaman parava na passadeira de peões, mas era uma solução precária, porque via que todos nós cumprimos a Lei, e que o grosso da sua clientela são velhinhas que têm horror a atravessar fora da passadeira. Foi aqui que o chinaman e o seu clã mostraram o seu elevado grau de integração, ao revelarem aquele engenho tão especificamente português. O chinaman mandou um dos membros do clã esperar, até conseguir ver um lugar de estacionamento vago mesmo, mesmo na esquina da frutaria. Quando finalmente, ao fim de umas semanas, o lugar vagou, o membro do clã ocupou - o com o pequeno Kia roxo, conseguindo, com uma manobra cheia de yiang, antecipar -se ao almirante reformado que avançava com o seu Honda de 1995, há cinco anos parado no passeio, por debaixo do estore do seu rés- do- chão. Houve uma troca de insultos durante uns minutos, mas nada de extraordinário. A partir daqui, o chinaman provou ser um verdadeiro português. A dinossáurica carrinha branca está fixa no lugar de estacionamento, e serve de armazém da fruta, que várias vezes ao dia é transferida para a frutaria por duas senhoras do clã. À noite, a fruta volta para a carrinha, garantindo assim todas as condições de higiene e ventilação que garantem a sua frescura. Uma vez por semana, entre as 5 horas e as 8 horas da manhã, quando o chinaman tem de ir ao MARL reabastecer, faz - se acompanhar por outro membro do clã, que desloca o Kia roxo para o meio do lugar. O almirante topou a coisa, e tentou um golpe de guerrilha numa madrugada de semana, mas o chinaman pôs -se à frente dele com a carrinha. Deste modo, a situação de lugar reservado prolonga - se já há vários meses. Um analista parcial e resistente à integração multicultural dirá que temos aqui um exemplo vivo de egoísmo, manhosice, mesquinhez e falta de respeito pelo espaço público, inaceitáveis numa sociedade evoluída e tolerante. Mas eu, que recuso que aqueles traços sejam constituintes da personalidade colectiva nacional, vejo apenas um exemplo superior de estratégia, disciplina, tenacidade e individualismo que não só são os traços essenciais de qualquer povo vencedor, como são indicadores do nosso melhor espírito nacional.
O meu comentário
Fernando Frazão disse...
Caro amigo
No bairro onde moro existe um exemplo semelhante mas executado por um portuga com igual sentido de pragmatismo.
Fica a sua merceria numa esquina rodeada de um magnifico paseio em redondo de uns bons dez metros de largura.
A apropriação do espaço público executa-se em dois passos distintos, a saber:
Primeiro alargou o espaço da loja, colocando no exterior uma estrutura de ferro onde, como qualquer merceria de bairro que se preze, coloca as caixas de legumes e de fruta, suspeito eu, de modo clandestino (sem alertas para a ASAE);
Segundo estacionou uma Hiace velhinha, em cima do passeio, fechando o lado do rectangulo que sobra para a rua onde, durante a noite armazena as caixas já referidas.
Embora concorde consigo acerca da miscigenação de DNA no progresso do país, nós próprios somos capazes de desaricanços iguais ao seu "chinaman".
O pessoal do bairro que circula pelo passeio tem que contornar a Hiace para seguir o seu caminho, mas aceita a cena alegremente
Resta dizer que o "xômanel", dono da referida merceria, é o mais popular do bairro.
É quase um axioma para qualquer cidadão ocidental minimamente atento que a melhor hipótese de sobrevivência de sociedades velhas e gastas como a portuguesa está na injecção de novo DNA. Deste modo, a militância activa pela opção multicultural está entre aqueles que considero como os meus deveres essenciais. Antes do mais, nas escolas, especialmente nas de elites, e no mercado de trabalho. Em termos muito rudimentares, a ideia é a de que integrar a diversidade enriquece toda a gente, e quanto maior conhecimento for adquirido por todos os diferentes, mais dinâmica fica a sociedade, isto é, todos nós. Além de que, claro, a uniformidade é monótona. Mas mais interessante ainda, dizem os teóricos, é conseguir a combinação quase mágica entre novo DNA e o melhor dos traços nacionais da sociedade acolhedora. Um palco de combate essencial para esta luta é o bairro, claro, já que inúmeros estudos científicos e empíricos mostram que a integração resulta sempre melhor quando o Outro é aceite numa pequena comunidade local, ou seja, a rua, o bairro, a zona. Daí que defender a vinda de imigrantes para uma sossegada rua de um bairro de classe média da ainda mítica mas muito abalada linha de Cascais tenha sido sempre uma aposta pessoal, embora, claro, levante periodicamente as sobrancelhas cépticas de muita gente. Na verdade, mostra felizmente a realidade, os cépticos podem beneficiar do conforto que é garantido pela imobilidade, e têm certamente a sabedoria de que as mudanças geralmente são perigosas, mas a realidade mostra que a sociedade portuguesa é uma daquelas que com maior eficácia consegue integrar toda a diferença, enriquecendo -se de modo decisivo. De facto, no espaço da minha latitude, os brasileiros, os angolanos, os ucranianos e especialmente o chinaman e o seu clã de geometria variável provam que os limites do multiculturalismo são extintos pela poderosa capacidade portuguesa de entranhar nos outros os seus valores básicos de modo rápido e eficiente . Os brasileiros foram recebidos de braços abertos, beneficiando daquela lenda de povo aberto, alegre, improvisador e easy going. É tudo verdade. É fantástico descobrir que aberto significa ter 23 "caras" a viver harmoniosamente num T0, contornando assim a crise económica, alegria que as dj sessions de forró são até às 3 horas da manhã para o bairro todo, o que revela um profundo sentimento comunitário, improvisador que o átrio do prédio sirva para abrir um restaurante de "churrasquinho", o que é um exercício notável de empreendedorismo, e easy going uma aventura impossível de descrever. Os angolanos foram uma aposta pessoal, por razões biográficas. O trio de rapazes que uma noite chegou teve isso em conta. A actividade mais integradora que periodicamente exercem é a de se pegarem à pancada às duas da manhã, com a porta do apartamento aberta, por causa do Benfica, do Sporting e do Amadora, e participam activamente nas culturas juvenis em alta, nomeadamente "kitando" e experimentando até ao nervo os Seat Ibiza durante a noite na nossa extensa rua de 150 metros. Os ucranianos, tenho de admitir, são o meu caso mais complicado. Uma família honrada e trabalhadora, com dois filhos à entrada da idade adulta. Mas, tirando o facto de terem colocado uma corda de estender a roupa que ocupa toda a largura do prédio, onde a cada 48 horas são colocadas três máquinas de roupa preta, o que prova aquele asseio alentejano clássico, não consigo detectar nenhum sinal integrador, até porque as minhas tentativas de meter conversa são sempre recebidas com um "pois, pá". Pelo contrário, o chinaman e o seu clã são o meu motivo de orgulho. Antes de tudo o mais, provaram que as linhas teóricas recentes de comunitarismo urbano estão absolutamente correctas, e abriram uma pequena frutaria de bairro. É extremamente porreiro, vizinho. As velhinhas, que já não se mexem, vão lá fazer o seu avio diário, aprenderam umas palavras de cantonês, e os jovens profissionais urbanos que chegam tarde a casa sempre sabem que às 20h30 ainda podem comprar uma bananinha para comer com o iogurte, ou uma maçã para enfeitar a pizza congelada. É verdade que a frutinha não dura mais do que 12 horas, e feitas as contas os preços são um negócio da china para o vendedor, mas é o imposto do local e da comodidade. Mas o que realmente me encanta é a carrinha de carga, que para mim é um símbolo notável de como o espírito português contamina de modo absoluto todos os que vêm de fora para lutar pela vida. O chinaman, como todos os pequenos empreendedores nacionais de comércio e serviços, têm uma grande carrinha de carga branca, daquelas com uma altura de um 1º andar. Ora, o chinaman tinha um problema: a sua frutaria é na esquina, tinha de descarregar diariamente o material, e como todos nós era afectado por aquela grande calamidade nacional de nunca ter lugar para estacionar mesmo à porta de casa. A princípio, o chinaman parava na passadeira de peões, mas era uma solução precária, porque via que todos nós cumprimos a Lei, e que o grosso da sua clientela são velhinhas que têm horror a atravessar fora da passadeira. Foi aqui que o chinaman e o seu clã mostraram o seu elevado grau de integração, ao revelarem aquele engenho tão especificamente português. O chinaman mandou um dos membros do clã esperar, até conseguir ver um lugar de estacionamento vago mesmo, mesmo na esquina da frutaria. Quando finalmente, ao fim de umas semanas, o lugar vagou, o membro do clã ocupou - o com o pequeno Kia roxo, conseguindo, com uma manobra cheia de yiang, antecipar -se ao almirante reformado que avançava com o seu Honda de 1995, há cinco anos parado no passeio, por debaixo do estore do seu rés- do- chão. Houve uma troca de insultos durante uns minutos, mas nada de extraordinário. A partir daqui, o chinaman provou ser um verdadeiro português. A dinossáurica carrinha branca está fixa no lugar de estacionamento, e serve de armazém da fruta, que várias vezes ao dia é transferida para a frutaria por duas senhoras do clã. À noite, a fruta volta para a carrinha, garantindo assim todas as condições de higiene e ventilação que garantem a sua frescura. Uma vez por semana, entre as 5 horas e as 8 horas da manhã, quando o chinaman tem de ir ao MARL reabastecer, faz - se acompanhar por outro membro do clã, que desloca o Kia roxo para o meio do lugar. O almirante topou a coisa, e tentou um golpe de guerrilha numa madrugada de semana, mas o chinaman pôs -se à frente dele com a carrinha. Deste modo, a situação de lugar reservado prolonga - se já há vários meses. Um analista parcial e resistente à integração multicultural dirá que temos aqui um exemplo vivo de egoísmo, manhosice, mesquinhez e falta de respeito pelo espaço público, inaceitáveis numa sociedade evoluída e tolerante. Mas eu, que recuso que aqueles traços sejam constituintes da personalidade colectiva nacional, vejo apenas um exemplo superior de estratégia, disciplina, tenacidade e individualismo que não só são os traços essenciais de qualquer povo vencedor, como são indicadores do nosso melhor espírito nacional.
O meu comentário
Fernando Frazão disse...
Caro amigo
No bairro onde moro existe um exemplo semelhante mas executado por um portuga com igual sentido de pragmatismo.
Fica a sua merceria numa esquina rodeada de um magnifico paseio em redondo de uns bons dez metros de largura.
A apropriação do espaço público executa-se em dois passos distintos, a saber:
Primeiro alargou o espaço da loja, colocando no exterior uma estrutura de ferro onde, como qualquer merceria de bairro que se preze, coloca as caixas de legumes e de fruta, suspeito eu, de modo clandestino (sem alertas para a ASAE);
Segundo estacionou uma Hiace velhinha, em cima do passeio, fechando o lado do rectangulo que sobra para a rua onde, durante a noite armazena as caixas já referidas.
Embora concorde consigo acerca da miscigenação de DNA no progresso do país, nós próprios somos capazes de desaricanços iguais ao seu "chinaman".
O pessoal do bairro que circula pelo passeio tem que contornar a Hiace para seguir o seu caminho, mas aceita a cena alegremente
Resta dizer que o "xômanel", dono da referida merceria, é o mais popular do bairro.
algumas hipóteses realistas para o futuro próximo
Tirado e comentado daqui
Como é do conhecimento daqueles que amavelmente seguem os escritos deste espaço, tenho acompanhado com a maior concentração possível o debate em torno do futuro dos autores e do livro, que se reacendeu um pouco por todo o mundo quando a Apple partilhou, há algumas semanas, a configuração essencial do IPad, o seu novo gadget. Uma primeira reflexão deu já origem a um post no Sniper ("risco intenso para o escritor português"), mas alguns contributos recentes e decisivos de especialistas obrigam a novas linhas. Para este momento, isolo dois textos particularmente importantes, um publicado no "Financial Times" em 9 de Fevereiro ("A page is turned") e outro de Jason Epstein, o real insider da edição, na "New York Review of Books" de 11 de Março ("Publishing: The Revolutionary Future"). Curiosamente, os dois textos, equivalentes em importância, unem -se numa linha de fundo estrutural, a de que o máximo a que se pode chegar neste momento é a conjecturas com um grau sério de realismo, mas também se complementam. O do "FT" procura dar conta da estratégia dos grandes conglomerados editoriais globais face à existência do texto digital. A investigação trouxe à tona revelações insólitas. A resposta dos grandes conglomerados editoriais é a de que vão manter o modelo de produção assente no papel (edição - impressão - distribuição), continuando a editar no modelo "codex", reservando para o mercado do texto digital apenas a negociação do preço de venda dos livros em formato digital com as entidades que o distribuem e vão distribuir no futuro. Esmiuçando esta estratégia, os editores não vão editar na plataforma digital, estando apenas preocupados, para já, em conseguir a melhor negociação possível com os grandes "players" deste ambiente, como a Amazon e a Apple. É neste ponto fundamental que o texto de Epstein - com o peso de muitas décadas na edição - ganha um interesse maior, já que, para ele, a estratégia dos conglomerados editoriais é um total suicídio. No seu texto, Epstein garante que "the transition within the book publishing industry from physical inventory stored in a warehouse and trucked to retailers to digital files stored in cyberspace and delivered almost anywhere on earth as quickly and cheaply as e - mail is now underway and irreversible. This historic shift will radically transform worldwide book publishing, the cultures it affects and on which it depends". Na sua longa reflexão, Epstein toca em todos os nós vitais da cadeia escritores - editores - distribuição - venda, mas neste "post" apenas consigo fazer alguma reflexão possível sobre os que mais me tocam. O primeiro é que o actual modelo empresarial da edição está condenado. Tal como defendi há umas semanas aqui no Sniper, há alguns traços que convém destacar desde logo. A distribuição e a venda em livraria tradicional são os nós onde haverá mais impacto. A edição será totalmente reformulada, e em lugar da grande editora nacional de gestão vertical, pertencendo ou não a uma multinacional, teremos nichos de editores, ligados além - fronteiras por interesses editoriais comuns, e capazes de juntar numa rede privada e empresarial todas as funções necessárias: pesquisa de autores, edição, comunicação e venda. Aqui, será aparentemente decisivo o modo de venda, com a introdução de modelos como o da expiração da licença e o aluguer, e a protecção do conteúdo face à ideologia do ficheiro gratuíto. O processo não está ainda em marcha porque, escreve Epstein, "the resistance today by publishers to the onrushing digital future does not arise from fear of disruptive literacy, but from the understandable fear of their own obsolescence and the complexity of the digital transformation that awaits them (...)". Para os autores, o futuro próximo é igualmente complexo. No "literary chaos of the digital future", como classifica Epstein, várias tendências aparecem desenhadas. Um ponto essencial parece ser o da obtenção de um "contrato global de direitos de autor", que permita, exactamente, a venda directa do livro digital ne internet, ou seja em todo o mundo. Obtido este, várias possibilidades podem desde já ser vislumbradas. Uma delas é a do o autor "acantonar- se" no seio do lugar virtual de um editor de reputação, capaz de lhe dar visibilidade num directório global como é o Google. Outra, que começa a ser adoptada pelos monstros best - sellers saxónicos, é a do autor, secundado por especialistas, assumir a comunicação e a venda. Qualquer que seja o cenário, a liderança em vendas e notoriedade será sempre dos autores que, como existem já exemplos em Portugal, estejam posicionados para comunicar em todas as plataformas, especialmente na televisão e na rede, e escrevam segundo as regras "mainstream" do momento. Neste cenário, vários problemas graves se levantam. Talvez o mais importante seja o da preservação segura e durável da cultura e do conhecimento, que, sem dúvida, são transmitidos acima de tudo pelo livro. Em que suporte serão transmitidos às bibliotecas os textos, de que modo se garante a sua inviolabilidade eterna, e igualmente de que modo se garante a disponibilidade aos leitores dos "fundos de livros" ( um problema já hoje em dia, devido à alta rotatividade do título em livraria) são temas em aberto. Uma única certeza existe em todo este processo: tal como em todas as outras áreas do mundo contemporâneo, há muito tempo, na verdade desde 1850, que a sociedade humana não acelerava tanto.
Comentário meu
Fernando Frazão disse...
No meio desta cadeia toda que parece estar a aproximar o produtor no consumidor final, eliminando intermediários, onde fica o o tradutor, cujo papel parece estar esquecido em todos os escritos que tenho lido sobre o assunto?
Como será possivel a escritores do gabarito de um Philip Roth, Ian Mcwean ou Cormac Mccarty colocarem "livros" no mercado português directamente sem passar por esta figura fundamental?
Remeto a questão para o magnifico prefácio do tradutor no Meridiano de Sangue de Cormac Mccarty explicando a dificuldade do seu trabalho ou o que está escrito pela tradutora de Lobo Antunes para Sueco. Quem paga o trabalho insano deste profissional?
Mais, a partir de um texto na lingua do escritor como se coloca, em tempo útil, via net, este produto nas diferentes linguas de consumo?
Gostaria de saber a sua opinião sobre esta questão.
Cumprimentos
Como é do conhecimento daqueles que amavelmente seguem os escritos deste espaço, tenho acompanhado com a maior concentração possível o debate em torno do futuro dos autores e do livro, que se reacendeu um pouco por todo o mundo quando a Apple partilhou, há algumas semanas, a configuração essencial do IPad, o seu novo gadget. Uma primeira reflexão deu já origem a um post no Sniper ("risco intenso para o escritor português"), mas alguns contributos recentes e decisivos de especialistas obrigam a novas linhas. Para este momento, isolo dois textos particularmente importantes, um publicado no "Financial Times" em 9 de Fevereiro ("A page is turned") e outro de Jason Epstein, o real insider da edição, na "New York Review of Books" de 11 de Março ("Publishing: The Revolutionary Future"). Curiosamente, os dois textos, equivalentes em importância, unem -se numa linha de fundo estrutural, a de que o máximo a que se pode chegar neste momento é a conjecturas com um grau sério de realismo, mas também se complementam. O do "FT" procura dar conta da estratégia dos grandes conglomerados editoriais globais face à existência do texto digital. A investigação trouxe à tona revelações insólitas. A resposta dos grandes conglomerados editoriais é a de que vão manter o modelo de produção assente no papel (edição - impressão - distribuição), continuando a editar no modelo "codex", reservando para o mercado do texto digital apenas a negociação do preço de venda dos livros em formato digital com as entidades que o distribuem e vão distribuir no futuro. Esmiuçando esta estratégia, os editores não vão editar na plataforma digital, estando apenas preocupados, para já, em conseguir a melhor negociação possível com os grandes "players" deste ambiente, como a Amazon e a Apple. É neste ponto fundamental que o texto de Epstein - com o peso de muitas décadas na edição - ganha um interesse maior, já que, para ele, a estratégia dos conglomerados editoriais é um total suicídio. No seu texto, Epstein garante que "the transition within the book publishing industry from physical inventory stored in a warehouse and trucked to retailers to digital files stored in cyberspace and delivered almost anywhere on earth as quickly and cheaply as e - mail is now underway and irreversible. This historic shift will radically transform worldwide book publishing, the cultures it affects and on which it depends". Na sua longa reflexão, Epstein toca em todos os nós vitais da cadeia escritores - editores - distribuição - venda, mas neste "post" apenas consigo fazer alguma reflexão possível sobre os que mais me tocam. O primeiro é que o actual modelo empresarial da edição está condenado. Tal como defendi há umas semanas aqui no Sniper, há alguns traços que convém destacar desde logo. A distribuição e a venda em livraria tradicional são os nós onde haverá mais impacto. A edição será totalmente reformulada, e em lugar da grande editora nacional de gestão vertical, pertencendo ou não a uma multinacional, teremos nichos de editores, ligados além - fronteiras por interesses editoriais comuns, e capazes de juntar numa rede privada e empresarial todas as funções necessárias: pesquisa de autores, edição, comunicação e venda. Aqui, será aparentemente decisivo o modo de venda, com a introdução de modelos como o da expiração da licença e o aluguer, e a protecção do conteúdo face à ideologia do ficheiro gratuíto. O processo não está ainda em marcha porque, escreve Epstein, "the resistance today by publishers to the onrushing digital future does not arise from fear of disruptive literacy, but from the understandable fear of their own obsolescence and the complexity of the digital transformation that awaits them (...)". Para os autores, o futuro próximo é igualmente complexo. No "literary chaos of the digital future", como classifica Epstein, várias tendências aparecem desenhadas. Um ponto essencial parece ser o da obtenção de um "contrato global de direitos de autor", que permita, exactamente, a venda directa do livro digital ne internet, ou seja em todo o mundo. Obtido este, várias possibilidades podem desde já ser vislumbradas. Uma delas é a do o autor "acantonar- se" no seio do lugar virtual de um editor de reputação, capaz de lhe dar visibilidade num directório global como é o Google. Outra, que começa a ser adoptada pelos monstros best - sellers saxónicos, é a do autor, secundado por especialistas, assumir a comunicação e a venda. Qualquer que seja o cenário, a liderança em vendas e notoriedade será sempre dos autores que, como existem já exemplos em Portugal, estejam posicionados para comunicar em todas as plataformas, especialmente na televisão e na rede, e escrevam segundo as regras "mainstream" do momento. Neste cenário, vários problemas graves se levantam. Talvez o mais importante seja o da preservação segura e durável da cultura e do conhecimento, que, sem dúvida, são transmitidos acima de tudo pelo livro. Em que suporte serão transmitidos às bibliotecas os textos, de que modo se garante a sua inviolabilidade eterna, e igualmente de que modo se garante a disponibilidade aos leitores dos "fundos de livros" ( um problema já hoje em dia, devido à alta rotatividade do título em livraria) são temas em aberto. Uma única certeza existe em todo este processo: tal como em todas as outras áreas do mundo contemporâneo, há muito tempo, na verdade desde 1850, que a sociedade humana não acelerava tanto.
Comentário meu
Fernando Frazão disse...
No meio desta cadeia toda que parece estar a aproximar o produtor no consumidor final, eliminando intermediários, onde fica o o tradutor, cujo papel parece estar esquecido em todos os escritos que tenho lido sobre o assunto?
Como será possivel a escritores do gabarito de um Philip Roth, Ian Mcwean ou Cormac Mccarty colocarem "livros" no mercado português directamente sem passar por esta figura fundamental?
Remeto a questão para o magnifico prefácio do tradutor no Meridiano de Sangue de Cormac Mccarty explicando a dificuldade do seu trabalho ou o que está escrito pela tradutora de Lobo Antunes para Sueco. Quem paga o trabalho insano deste profissional?
Mais, a partir de um texto na lingua do escritor como se coloca, em tempo útil, via net, este produto nas diferentes linguas de consumo?
Gostaria de saber a sua opinião sobre esta questão.
Cumprimentos
2010/04/01
Benfica vs Liverpool
No dia 21 de Março de 1984 fui ao Estádio da Luz ver o Benfica - Liverpool. Foi a 2ª mão dos 1/4 final da Taça dos Campeões Europeus. Em Anfield o Benfica tinha perdido por 1-0. As esperanças eram grandes. O Benfica de Sven-Goran Eriksson estava a jogar bem. Era uma equipa renovada com Carlos Manuel, Chalana e Diamantino. Stromberg dava solidez ao meio campo. Bento era o guarda redes e Néné ainda ajudava. O Liverpool era treinado por Joe Fagan e as estrelas eram muitas. Destaco o Alan Kennedy, o Kenny Dalglish, o Ian Rush e o Graeme Souness.
Para ir ao jogo tive que "meter" meio dia de férias. Na altura trabalhava numa unidade industrial do Barreiro. Saí depois de almoço. Apanhei o barco até ao Terreiro do Paço. Fiz horas até ao início do jogo e lá entrei na "Catedral". Com mais 70.000. Na altura já não era sócio ( tinha-o sido nos tempos de Jimmy Hagan ) mas consegui um bilhete de sócio ( não conto como ...pois ainda quero fazer carreira política ).
O Liverpool deu uma lição ao Benfica. O resultado final foi 1-4.
O Benfica alinhou com :
1. Bento (C) ; 2. Pietra; 3. Oliveira ( substituido por Shéu aos 46' ) 4. Álvaro Magalhães; 5. Bastos Lopes; 6. Carlos Manuel ; 7. Néné; 8. Glenn Stromberg; 9. Michael Manniche; 10. Chalana; 11. Diamantino ( substituido por Zoran Filipovic aos 58' ).
O Liverpool alinhou com :
1. Bruce Grobbelaar; 2. Phil Neal; 3.Alan Kennedy; 4.Mark Lawrenson, 5.Ronnie Whelan; 6.Alan Hansen; 7.Kenny Dalglish; 8.Sammy Lee; 9.Ian Rush; 10.Craig Johnston; 11. Graeme Souness (C).
O árbitro foi o alemão Volker Roth.
Os golos : 9' Whelan ( 0-1 ); 33' Craig Johnston ( 0-2 ); 74' Néné ( 1-2 ); 78' Ian Rush ( 1-3 ) ; 88' Whelan ( 1-4 ).
O Liverpool seria Campeão Europeu nessa época. Ganhou por penalties a final ao A.S. Roma, na capital italiana.
Sven-Goran Eriksson é agora o seleccionador da Costa do Marfim e todos conhecem a sua carreira . Ficou na história do Benfica.
Joe Fagan tinha sucedido a Bob Paisley em 1983 e fazia parte da famosa Bootroom onde também trabalhou com o inesquecível Bill Shankly. Abandonou a carreira depois da trágica final de Heyssel em 1985. Morreu em Julho de 2001 aos 80 anos.
Muitos jogadores ficaram na história dos respectivos clubes.
Alguns, depois de pendurarem as chuteiras, ainda exercem ou exerceram outras funções.
No Benfica : Pietra ( actual treinador adjunto de Jorge Jesus ), Shéu ( há que anos no Departamento Técnico ) , Chalana, Álvaro Magalhães. Manuel Bento faleceu em Março de 2007.
No Liverpool : Phil Neal, Kenny Dalglish ( actual embaixador da Academia do clube ), Sammy Lee (actual treinador adjunto de Rafa Benitez ) e Graeme Souness que curiosamente foi treinador dos dois clubes. Do Liverpool de 91 a 94 e do Benfica de 97 a 99. Infelizmente não ficou na história do Glorioso.
Quase de certeza que me esqueci de alguns. As minhas desculpas.
Dois grandes clubes que fizeram história na Taça dos Campeões Europeus. Em épocas diferentes.
Coisa que está ao alcance de poucos. Acrescentaria o penta-campeão Real Madrid da década de 50, o Ajax tri-campeão em 70/71, 71/72 e 72/73/74 , o Bayern Munique também tri-campeão em 73/74, 74/75 e 75/76 e ainda o Milão dos holandeses Van Basten, Gullit e Reykaard no final da década de 80 princípio da década de 90.
O Benfica na década de 60. Interrompeu o domínio do Real Madrid e em 8 anos foi a 5 finais. Tendo sido bi-campeão em 60/61 e 61/62.
O Liverpool que, depois do êxito episódico, em 1968, do Manchester United, iniciou em 1976 /77 um período de domínio dos clubes ingleses. O Liverpool de 76/ 77 a 84/85 disputou 5 finais ganhando 4. E possivelmente esse domínio teria continuado caso os clubes ingleses não tivessem sido suspenso por 5 anos de todas as competções europeias após a final de Bruxelas em 1985. Nunca o saberemos.
Apenas sabemos que são dois grandes clubes e ambos equipam de vermelho.
Tirado daqui
Para ir ao jogo tive que "meter" meio dia de férias. Na altura trabalhava numa unidade industrial do Barreiro. Saí depois de almoço. Apanhei o barco até ao Terreiro do Paço. Fiz horas até ao início do jogo e lá entrei na "Catedral". Com mais 70.000. Na altura já não era sócio ( tinha-o sido nos tempos de Jimmy Hagan ) mas consegui um bilhete de sócio ( não conto como ...pois ainda quero fazer carreira política ).
O Liverpool deu uma lição ao Benfica. O resultado final foi 1-4.
O Benfica alinhou com :
1. Bento (C) ; 2. Pietra; 3. Oliveira ( substituido por Shéu aos 46' ) 4. Álvaro Magalhães; 5. Bastos Lopes; 6. Carlos Manuel ; 7. Néné; 8. Glenn Stromberg; 9. Michael Manniche; 10. Chalana; 11. Diamantino ( substituido por Zoran Filipovic aos 58' ).
O Liverpool alinhou com :
1. Bruce Grobbelaar; 2. Phil Neal; 3.Alan Kennedy; 4.Mark Lawrenson, 5.Ronnie Whelan; 6.Alan Hansen; 7.Kenny Dalglish; 8.Sammy Lee; 9.Ian Rush; 10.Craig Johnston; 11. Graeme Souness (C).
O árbitro foi o alemão Volker Roth.
Os golos : 9' Whelan ( 0-1 ); 33' Craig Johnston ( 0-2 ); 74' Néné ( 1-2 ); 78' Ian Rush ( 1-3 ) ; 88' Whelan ( 1-4 ).
O Liverpool seria Campeão Europeu nessa época. Ganhou por penalties a final ao A.S. Roma, na capital italiana.
Sven-Goran Eriksson é agora o seleccionador da Costa do Marfim e todos conhecem a sua carreira . Ficou na história do Benfica.
Joe Fagan tinha sucedido a Bob Paisley em 1983 e fazia parte da famosa Bootroom onde também trabalhou com o inesquecível Bill Shankly. Abandonou a carreira depois da trágica final de Heyssel em 1985. Morreu em Julho de 2001 aos 80 anos.
Muitos jogadores ficaram na história dos respectivos clubes.
Alguns, depois de pendurarem as chuteiras, ainda exercem ou exerceram outras funções.
No Benfica : Pietra ( actual treinador adjunto de Jorge Jesus ), Shéu ( há que anos no Departamento Técnico ) , Chalana, Álvaro Magalhães. Manuel Bento faleceu em Março de 2007.
No Liverpool : Phil Neal, Kenny Dalglish ( actual embaixador da Academia do clube ), Sammy Lee (actual treinador adjunto de Rafa Benitez ) e Graeme Souness que curiosamente foi treinador dos dois clubes. Do Liverpool de 91 a 94 e do Benfica de 97 a 99. Infelizmente não ficou na história do Glorioso.
Quase de certeza que me esqueci de alguns. As minhas desculpas.
Dois grandes clubes que fizeram história na Taça dos Campeões Europeus. Em épocas diferentes.
Coisa que está ao alcance de poucos. Acrescentaria o penta-campeão Real Madrid da década de 50, o Ajax tri-campeão em 70/71, 71/72 e 72/73/74 , o Bayern Munique também tri-campeão em 73/74, 74/75 e 75/76 e ainda o Milão dos holandeses Van Basten, Gullit e Reykaard no final da década de 80 princípio da década de 90.
O Benfica na década de 60. Interrompeu o domínio do Real Madrid e em 8 anos foi a 5 finais. Tendo sido bi-campeão em 60/61 e 61/62.
O Liverpool que, depois do êxito episódico, em 1968, do Manchester United, iniciou em 1976 /77 um período de domínio dos clubes ingleses. O Liverpool de 76/ 77 a 84/85 disputou 5 finais ganhando 4. E possivelmente esse domínio teria continuado caso os clubes ingleses não tivessem sido suspenso por 5 anos de todas as competções europeias após a final de Bruxelas em 1985. Nunca o saberemos.
Apenas sabemos que são dois grandes clubes e ambos equipam de vermelho.
Tirado daqui
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