2010/03/16

Lei da Rolha


Imagem retirada do Abrupto.

Constança Cunha e Sá, Congresso da Rolha, hoje no Correio da Manhã. Elementar:


«A norma aprovada pelo PSD que institui sanções — que podem ir até à expulsão — a todos os militantes que critiquem a direcção do partido dois meses antes das eleições não é apenas um episódio absurdo que pode ser eliminado num próximo congresso de acordo com os votos piedosos expressos pelos três candidatos à liderança. Independentemente da sua hipotética revogação, a proposta aprovada pela esmagadora maioria dos delegados, perante o silêncio cúmplice dos mesmos candidatos, revela de forma cristalina o estado em que se encontra actualmente o PSD.

Que o PSD considere que a melhor forma de garantir a sua unidade e coesão é sancionar quem ouse criticar as decisões sagradas da sua direcção, transformando, pelo caminho, uma questão que devia ser política num procedimento disciplinar, é algo que o desqualifica democraticamente. A ‘lei da rolha’, como já é conhecida esta extraordinária norma, ao atentar contra os princípios básicos da liberdade de expressão, é própria de um partido totalitário que preza, acima de tudo, uma falsa unanimidade, arquitectada de acordo com os velhos princípios do estalinismo.

O caso ganha contornos ainda mais surrealistas quando se sabe que o PSD tem feito da ‘asfixia democrática’ a sua principal bandeira, presidindo, neste momento, a uma comissão parlamentar que visa saber se existe liberdade de expressão em Portugal. O facto de a dr.ª Ferreira Leite, que é o rosto desta cruzada, achar tudo isto ‘muito bem’ só agrava, ainda mais, a situação. Depois de aprovar a asfixia no interior do partido, com o apoio da sua actual presidente, o PSD perdeu, como é óbvio, qualquer autoridade política para questionar o PS sobre a liberdade de expressão no país. Um partido não pode ter dois pesos e duas medidas e condenar a asfixia dos outros quando ele próprio é o primeiro a aplicá-la aos seus militantes.

Por último, a aprovação esmagadora desta proposta mostra bem o que o partido pensa sobre o seu futuro próximo e sobre os seus actuais candidatos. Ao contrário das proclamações épicas destes últimos, o PSD têm-nos na devida conta e sabe que nenhum deles tem força e autoridade para o unir o partido no essencial: daí que seja necessária uma norma estatutária para impedir a balbúrdia que, há muitos anos, se instalou no PSD. No fundo, o partido sabe que, ganhe quem ganhar, o próximo líder é, mais uma vez, um líder a abater.

Quer se goste ou não, a verdade é que o PSD é, de facto, o único seguro de vida que o eng.º Sócrates hoje tem.»

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