Dia 1 de setembro vou para Pequim.
Como habitual, nestas coisas de grandes viagens, com o Stephan Becker grande amigo (em todos os sentidos) alemão.
É pena que a minha mulher não possa ir mas o dinheiro e o tempo não chega para tudo.
Antecipo os sentimentos quando estiver a ver a grandiosidade da Cidade Probida e da Grande Muralha.
Tenho por hábito, quando viajo, de comer o que os lugares têm para oferecer e não me tenho dado mal. Acontece que nunca estive num país onde se comem insectos, apesar de já ter estado na tailandia, Indonésia (Bali) e Japão. Estou por isso a tentar mentalizar-me para ultrapassar algumas repugnancias que a nossa cultura ocidental colocam. Eu depois conto.
Para além de tudo isto vou ter uma experiência, provavelmente a única, de voar no A380.
Já voei em quase todos os aviões comerciais, em muitos da FAP, mas este vai ser um "must".
A ver.
PS: Quando voltar prometo não ser preguiçoso e completar as Crónicas de Bali e contar tudo sobre esta viagem.
2010/08/27
Serie Jardins Improváveis II
Serie Jardins Improváveis I
O Título diz tudo.
Diz apenas respeito à capacidade e imaginação das pessoas em organizarem os seus jardins da forma possível e com os meios de que dispõem.
Fotos tirados por mim.
Prédio em S. Domingos de Rana ao pé da escola secundária (Agosto/2010).
Reparem que parece haver uma competição entre os moradores tentando mostrar a varanda mais bonita e exuberante.
Diz apenas respeito à capacidade e imaginação das pessoas em organizarem os seus jardins da forma possível e com os meios de que dispõem.
Fotos tirados por mim.
Prédio em S. Domingos de Rana ao pé da escola secundária (Agosto/2010).
Reparem que parece haver uma competição entre os moradores tentando mostrar a varanda mais bonita e exuberante.
2010/08/26
George Steiner
Estou a ler a coletânea de textos publícados no New Yorker.
A excelência dos mesmos não sofre qualquer contestação continuando no nível a que nos habituou. Sou especialmente fã do que escreveu em "Uma ideia de Europa"
Apenas um reparo editorial. Embora haja uma referencia quanto ao intervalo de publicação dos mesmos (entre 1966 e 1997 ou seja 31 anos) como é possivel que cada um deles não traga a data de publicação?
Inaceitável e imperdoável porque a data de publicação é um elemento imprescindivel para enquardar os escritos na situação poítica económica e social do momento.
A excelência dos mesmos não sofre qualquer contestação continuando no nível a que nos habituou. Sou especialmente fã do que escreveu em "Uma ideia de Europa"
Apenas um reparo editorial. Embora haja uma referencia quanto ao intervalo de publicação dos mesmos (entre 1966 e 1997 ou seja 31 anos) como é possivel que cada um deles não traga a data de publicação?
Inaceitável e imperdoável porque a data de publicação é um elemento imprescindivel para enquardar os escritos na situação poítica económica e social do momento.
o chinaman e a extinção dos limites do multiculturalismo
Post e meu comentário editados aqui
É quase um axioma para qualquer cidadão ocidental minimamente atento que a melhor hipótese de sobrevivência de sociedades velhas e gastas como a portuguesa está na injecção de novo DNA. Deste modo, a militância activa pela opção multicultural está entre aqueles que considero como os meus deveres essenciais. Antes do mais, nas escolas, especialmente nas de elites, e no mercado de trabalho. Em termos muito rudimentares, a ideia é a de que integrar a diversidade enriquece toda a gente, e quanto maior conhecimento for adquirido por todos os diferentes, mais dinâmica fica a sociedade, isto é, todos nós. Além de que, claro, a uniformidade é monótona. Mas mais interessante ainda, dizem os teóricos, é conseguir a combinação quase mágica entre novo DNA e o melhor dos traços nacionais da sociedade acolhedora. Um palco de combate essencial para esta luta é o bairro, claro, já que inúmeros estudos científicos e empíricos mostram que a integração resulta sempre melhor quando o Outro é aceite numa pequena comunidade local, ou seja, a rua, o bairro, a zona. Daí que defender a vinda de imigrantes para uma sossegada rua de um bairro de classe média da ainda mítica mas muito abalada linha de Cascais tenha sido sempre uma aposta pessoal, embora, claro, levante periodicamente as sobrancelhas cépticas de muita gente. Na verdade, mostra felizmente a realidade, os cépticos podem beneficiar do conforto que é garantido pela imobilidade, e têm certamente a sabedoria de que as mudanças geralmente são perigosas, mas a realidade mostra que a sociedade portuguesa é uma daquelas que com maior eficácia consegue integrar toda a diferença, enriquecendo -se de modo decisivo. De facto, no espaço da minha latitude, os brasileiros, os angolanos, os ucranianos e especialmente o chinaman e o seu clã de geometria variável provam que os limites do multiculturalismo são extintos pela poderosa capacidade portuguesa de entranhar nos outros os seus valores básicos de modo rápido e eficiente . Os brasileiros foram recebidos de braços abertos, beneficiando daquela lenda de povo aberto, alegre, improvisador e easy going. É tudo verdade. É fantástico descobrir que aberto significa ter 23 "caras" a viver harmoniosamente num T0, contornando assim a crise económica, alegria que as dj sessions de forró são até às 3 horas da manhã para o bairro todo, o que revela um profundo sentimento comunitário, improvisador que o átrio do prédio sirva para abrir um restaurante de "churrasquinho", o que é um exercício notável de empreendedorismo, e easy going uma aventura impossível de descrever. Os angolanos foram uma aposta pessoal, por razões biográficas. O trio de rapazes que uma noite chegou teve isso em conta. A actividade mais integradora que periodicamente exercem é a de se pegarem à pancada às duas da manhã, com a porta do apartamento aberta, por causa do Benfica, do Sporting e do Amadora, e participam activamente nas culturas juvenis em alta, nomeadamente "kitando" e experimentando até ao nervo os Seat Ibiza durante a noite na nossa extensa rua de 150 metros. Os ucranianos, tenho de admitir, são o meu caso mais complicado. Uma família honrada e trabalhadora, com dois filhos à entrada da idade adulta. Mas, tirando o facto de terem colocado uma corda de estender a roupa que ocupa toda a largura do prédio, onde a cada 48 horas são colocadas três máquinas de roupa preta, o que prova aquele asseio alentejano clássico, não consigo detectar nenhum sinal integrador, até porque as minhas tentativas de meter conversa são sempre recebidas com um "pois, pá". Pelo contrário, o chinaman e o seu clã são o meu motivo de orgulho. Antes de tudo o mais, provaram que as linhas teóricas recentes de comunitarismo urbano estão absolutamente correctas, e abriram uma pequena frutaria de bairro. É extremamente porreiro, vizinho. As velhinhas, que já não se mexem, vão lá fazer o seu avio diário, aprenderam umas palavras de cantonês, e os jovens profissionais urbanos que chegam tarde a casa sempre sabem que às 20h30 ainda podem comprar uma bananinha para comer com o iogurte, ou uma maçã para enfeitar a pizza congelada. É verdade que a frutinha não dura mais do que 12 horas, e feitas as contas os preços são um negócio da china para o vendedor, mas é o imposto do local e da comodidade. Mas o que realmente me encanta é a carrinha de carga, que para mim é um símbolo notável de como o espírito português contamina de modo absoluto todos os que vêm de fora para lutar pela vida. O chinaman, como todos os pequenos empreendedores nacionais de comércio e serviços, têm uma grande carrinha de carga branca, daquelas com uma altura de um 1º andar. Ora, o chinaman tinha um problema: a sua frutaria é na esquina, tinha de descarregar diariamente o material, e como todos nós era afectado por aquela grande calamidade nacional de nunca ter lugar para estacionar mesmo à porta de casa. A princípio, o chinaman parava na passadeira de peões, mas era uma solução precária, porque via que todos nós cumprimos a Lei, e que o grosso da sua clientela são velhinhas que têm horror a atravessar fora da passadeira. Foi aqui que o chinaman e o seu clã mostraram o seu elevado grau de integração, ao revelarem aquele engenho tão especificamente português. O chinaman mandou um dos membros do clã esperar, até conseguir ver um lugar de estacionamento vago mesmo, mesmo na esquina da frutaria. Quando finalmente, ao fim de umas semanas, o lugar vagou, o membro do clã ocupou - o com o pequeno Kia roxo, conseguindo, com uma manobra cheia de yiang, antecipar -se ao almirante reformado que avançava com o seu Honda de 1995, há cinco anos parado no passeio, por debaixo do estore do seu rés- do- chão. Houve uma troca de insultos durante uns minutos, mas nada de extraordinário. A partir daqui, o chinaman provou ser um verdadeiro português. A dinossáurica carrinha branca está fixa no lugar de estacionamento, e serve de armazém da fruta, que várias vezes ao dia é transferida para a frutaria por duas senhoras do clã. À noite, a fruta volta para a carrinha, garantindo assim todas as condições de higiene e ventilação que garantem a sua frescura. Uma vez por semana, entre as 5 horas e as 8 horas da manhã, quando o chinaman tem de ir ao MARL reabastecer, faz - se acompanhar por outro membro do clã, que desloca o Kia roxo para o meio do lugar. O almirante topou a coisa, e tentou um golpe de guerrilha numa madrugada de semana, mas o chinaman pôs -se à frente dele com a carrinha. Deste modo, a situação de lugar reservado prolonga - se já há vários meses. Um analista parcial e resistente à integração multicultural dirá que temos aqui um exemplo vivo de egoísmo, manhosice, mesquinhez e falta de respeito pelo espaço público, inaceitáveis numa sociedade evoluída e tolerante. Mas eu, que recuso que aqueles traços sejam constituintes da personalidade colectiva nacional, vejo apenas um exemplo superior de estratégia, disciplina, tenacidade e individualismo que não só são os traços essenciais de qualquer povo vencedor, como são indicadores do nosso melhor espírito nacional.
Caro amigo No bairro onde moro existe um exemplo semelhante mas executado por um portuga com igual sentido de pragmatismo.Fica a sua merceria numa esquina rodeada de um magnifico paseio em redondo de uns bons dez metros de largura.A apropriação do espaço público executa-se em dois passos distintos, a saber:Primeiro alargou o espaço da loja, colocando no exterior uma estrutura de ferro onde, como qualquer merceria de bairro que se preze, coloca as caixas de legumes e de fruta, suspeito eu, de modo clandestino (sem alertas para a ASAE);Segundo estacionou uma Hiace velhinha, em cima do passeio, fechando o lado do rectangulo que sobra para a rua onde, durante a noite armazena as caixas já referidas.Embora concorde consigo acerca da miscigenação de DNA no progresso do país, nós próprios somos capazes de desaricanços iguais ao seu "chinaman".O pessoal do bairro que circula pelo passeio tem que contornar a Hiace para seguir o seu caminho, mas aceita a cena alegrementeResta dizer que o "xômanel", dono da referida merceria, é o mais popular do bairro.
É quase um axioma para qualquer cidadão ocidental minimamente atento que a melhor hipótese de sobrevivência de sociedades velhas e gastas como a portuguesa está na injecção de novo DNA. Deste modo, a militância activa pela opção multicultural está entre aqueles que considero como os meus deveres essenciais. Antes do mais, nas escolas, especialmente nas de elites, e no mercado de trabalho. Em termos muito rudimentares, a ideia é a de que integrar a diversidade enriquece toda a gente, e quanto maior conhecimento for adquirido por todos os diferentes, mais dinâmica fica a sociedade, isto é, todos nós. Além de que, claro, a uniformidade é monótona. Mas mais interessante ainda, dizem os teóricos, é conseguir a combinação quase mágica entre novo DNA e o melhor dos traços nacionais da sociedade acolhedora. Um palco de combate essencial para esta luta é o bairro, claro, já que inúmeros estudos científicos e empíricos mostram que a integração resulta sempre melhor quando o Outro é aceite numa pequena comunidade local, ou seja, a rua, o bairro, a zona. Daí que defender a vinda de imigrantes para uma sossegada rua de um bairro de classe média da ainda mítica mas muito abalada linha de Cascais tenha sido sempre uma aposta pessoal, embora, claro, levante periodicamente as sobrancelhas cépticas de muita gente. Na verdade, mostra felizmente a realidade, os cépticos podem beneficiar do conforto que é garantido pela imobilidade, e têm certamente a sabedoria de que as mudanças geralmente são perigosas, mas a realidade mostra que a sociedade portuguesa é uma daquelas que com maior eficácia consegue integrar toda a diferença, enriquecendo -se de modo decisivo. De facto, no espaço da minha latitude, os brasileiros, os angolanos, os ucranianos e especialmente o chinaman e o seu clã de geometria variável provam que os limites do multiculturalismo são extintos pela poderosa capacidade portuguesa de entranhar nos outros os seus valores básicos de modo rápido e eficiente . Os brasileiros foram recebidos de braços abertos, beneficiando daquela lenda de povo aberto, alegre, improvisador e easy going. É tudo verdade. É fantástico descobrir que aberto significa ter 23 "caras" a viver harmoniosamente num T0, contornando assim a crise económica, alegria que as dj sessions de forró são até às 3 horas da manhã para o bairro todo, o que revela um profundo sentimento comunitário, improvisador que o átrio do prédio sirva para abrir um restaurante de "churrasquinho", o que é um exercício notável de empreendedorismo, e easy going uma aventura impossível de descrever. Os angolanos foram uma aposta pessoal, por razões biográficas. O trio de rapazes que uma noite chegou teve isso em conta. A actividade mais integradora que periodicamente exercem é a de se pegarem à pancada às duas da manhã, com a porta do apartamento aberta, por causa do Benfica, do Sporting e do Amadora, e participam activamente nas culturas juvenis em alta, nomeadamente "kitando" e experimentando até ao nervo os Seat Ibiza durante a noite na nossa extensa rua de 150 metros. Os ucranianos, tenho de admitir, são o meu caso mais complicado. Uma família honrada e trabalhadora, com dois filhos à entrada da idade adulta. Mas, tirando o facto de terem colocado uma corda de estender a roupa que ocupa toda a largura do prédio, onde a cada 48 horas são colocadas três máquinas de roupa preta, o que prova aquele asseio alentejano clássico, não consigo detectar nenhum sinal integrador, até porque as minhas tentativas de meter conversa são sempre recebidas com um "pois, pá". Pelo contrário, o chinaman e o seu clã são o meu motivo de orgulho. Antes de tudo o mais, provaram que as linhas teóricas recentes de comunitarismo urbano estão absolutamente correctas, e abriram uma pequena frutaria de bairro. É extremamente porreiro, vizinho. As velhinhas, que já não se mexem, vão lá fazer o seu avio diário, aprenderam umas palavras de cantonês, e os jovens profissionais urbanos que chegam tarde a casa sempre sabem que às 20h30 ainda podem comprar uma bananinha para comer com o iogurte, ou uma maçã para enfeitar a pizza congelada. É verdade que a frutinha não dura mais do que 12 horas, e feitas as contas os preços são um negócio da china para o vendedor, mas é o imposto do local e da comodidade. Mas o que realmente me encanta é a carrinha de carga, que para mim é um símbolo notável de como o espírito português contamina de modo absoluto todos os que vêm de fora para lutar pela vida. O chinaman, como todos os pequenos empreendedores nacionais de comércio e serviços, têm uma grande carrinha de carga branca, daquelas com uma altura de um 1º andar. Ora, o chinaman tinha um problema: a sua frutaria é na esquina, tinha de descarregar diariamente o material, e como todos nós era afectado por aquela grande calamidade nacional de nunca ter lugar para estacionar mesmo à porta de casa. A princípio, o chinaman parava na passadeira de peões, mas era uma solução precária, porque via que todos nós cumprimos a Lei, e que o grosso da sua clientela são velhinhas que têm horror a atravessar fora da passadeira. Foi aqui que o chinaman e o seu clã mostraram o seu elevado grau de integração, ao revelarem aquele engenho tão especificamente português. O chinaman mandou um dos membros do clã esperar, até conseguir ver um lugar de estacionamento vago mesmo, mesmo na esquina da frutaria. Quando finalmente, ao fim de umas semanas, o lugar vagou, o membro do clã ocupou - o com o pequeno Kia roxo, conseguindo, com uma manobra cheia de yiang, antecipar -se ao almirante reformado que avançava com o seu Honda de 1995, há cinco anos parado no passeio, por debaixo do estore do seu rés- do- chão. Houve uma troca de insultos durante uns minutos, mas nada de extraordinário. A partir daqui, o chinaman provou ser um verdadeiro português. A dinossáurica carrinha branca está fixa no lugar de estacionamento, e serve de armazém da fruta, que várias vezes ao dia é transferida para a frutaria por duas senhoras do clã. À noite, a fruta volta para a carrinha, garantindo assim todas as condições de higiene e ventilação que garantem a sua frescura. Uma vez por semana, entre as 5 horas e as 8 horas da manhã, quando o chinaman tem de ir ao MARL reabastecer, faz - se acompanhar por outro membro do clã, que desloca o Kia roxo para o meio do lugar. O almirante topou a coisa, e tentou um golpe de guerrilha numa madrugada de semana, mas o chinaman pôs -se à frente dele com a carrinha. Deste modo, a situação de lugar reservado prolonga - se já há vários meses. Um analista parcial e resistente à integração multicultural dirá que temos aqui um exemplo vivo de egoísmo, manhosice, mesquinhez e falta de respeito pelo espaço público, inaceitáveis numa sociedade evoluída e tolerante. Mas eu, que recuso que aqueles traços sejam constituintes da personalidade colectiva nacional, vejo apenas um exemplo superior de estratégia, disciplina, tenacidade e individualismo que não só são os traços essenciais de qualquer povo vencedor, como são indicadores do nosso melhor espírito nacional.
Caro amigo No bairro onde moro existe um exemplo semelhante mas executado por um portuga com igual sentido de pragmatismo.Fica a sua merceria numa esquina rodeada de um magnifico paseio em redondo de uns bons dez metros de largura.A apropriação do espaço público executa-se em dois passos distintos, a saber:Primeiro alargou o espaço da loja, colocando no exterior uma estrutura de ferro onde, como qualquer merceria de bairro que se preze, coloca as caixas de legumes e de fruta, suspeito eu, de modo clandestino (sem alertas para a ASAE);Segundo estacionou uma Hiace velhinha, em cima do passeio, fechando o lado do rectangulo que sobra para a rua onde, durante a noite armazena as caixas já referidas.Embora concorde consigo acerca da miscigenação de DNA no progresso do país, nós próprios somos capazes de desaricanços iguais ao seu "chinaman".O pessoal do bairro que circula pelo passeio tem que contornar a Hiace para seguir o seu caminho, mas aceita a cena alegrementeResta dizer que o "xômanel", dono da referida merceria, é o mais popular do bairro.
A primeira resposta à inevitável pergunta materna como era a comida? comeste bem? E obviamente, seguindo a mesma doutrina, a das mães, lá vou eu à net ver como se faz e, claro, à procura do molho Ceasar, sim, que mãe, mas sem extremismos de me pôr a fazer molho caseiro.Guardo então aqui a receita, caso ela insista nesta nova paixão gastronómica e eu, nos entretantos, me esqueça.Trata-se de uma salada Italo Mexicana largamente adoptada principalmente pelos americanos. A Caesar Salad é tão consumida, que, muitas pessoas pensam ser genuinamente americana. Ou será por constar no livro de cozinha de Julia Child?.... Na realidade, ela foi criada pelo Chef italiano Caesar Cardini, no seu restaurante em Tijuana, México, na década de 1920. Seguiu uma velha receita familiar, diz-se, com a que as mães alimentavam os filhos no sul da Itália, em tempos difíceis: alface, ovos, pequenos pedaços de pão fritos com azeite, queijo seco, azeite, umas gotas de molho inglês e sumo de limão. O que para tempos difíceis, nem era mau de todo.Nos restaurantes, a Caesar Salad é quase sempre preparada na frente do cliente. É feita à base de alface-romana e um rico molho composto de gemas de ovos, azeite, sumo de limão, alho, mostarda, pimenta, queijo ralado e finalmente, se desejar, anchovas, ou frango assado desfiado.Este prato popularizou-se em Tijuana, no México, também, por representar um verdadeiro "show" para o garçon e um deleite para os clientes.É feita como se fosse uma maionese, mas enriquecida. Por cima é guarnecida com croutons. Assim:Lave bem as folhas da alface (e/ou endivias) e seque-as. Retire os talos duros e rasgue as folhas em pedaços. Junte peito de frango cozinhado (assado, cozido....) desfiado. Ou anxovas.
Espalhe o molho por cima e cubra com croutons e queijo ralado. Simples.
Molho (existe já confeccionado)
2 ovos, azeite extra virgem, 1 colher de mostarda, 1 dente de alho, 1 colher de molho inglês, vinagre sal e pimenta a gosto. Bata tudo no liquidificador.
Nota: se quiser um molho com menos calorias, substitua os ovos por iogurte e reduza o azeite. E claro, pode juntar tudo o que gostar e se lembrar.
Espalhe o molho por cima e cubra com croutons e queijo ralado. Simples.
Molho (existe já confeccionado)
2 ovos, azeite extra virgem, 1 colher de mostarda, 1 dente de alho, 1 colher de molho inglês, vinagre sal e pimenta a gosto. Bata tudo no liquidificador.
Nota: se quiser um molho com menos calorias, substitua os ovos por iogurte e reduza o azeite. E claro, pode juntar tudo o que gostar e se lembrar.
Retirado daqui
2010/08/12
O estado a que isto chegou
Tirado daqui
O FOLHETIM
O Público anda a publicar em folhetim o affaire Freeport. A iniciativa não tem sentido. 1) José António Cerejo não é Bob Woodward; 2) o jornal anda a repetir em prosa cinzenta tudo o que a concorrência divulgou (a cores) nos primeiros nove meses do ano passado; 3) excepto vinte bloggers e caterva de comentadores, ninguém quer saber do Freeport para nada. O plot atingiu um patamar de delírio tal em que ninguém sabe quem é quem. E as revelações do jornal não acrescentam nada que não se soubesse. Chicana por chicana, ao menos na TVI era em stereo.
O que me parece extraordinário é o blasé da Comissão de Carteira Profissional de Jornalista. José António Cerejo escreveu no jornal que a sua intervenção como assistente no processo teve como único objectivo obter informação. Fraude, portanto. Atento o comportamento de tanta gente (agentes judiciários incluídos), nada me espanta. Como precedente, não está mal.
Fico sentado à espera de novo(s) caso(s), visando gente do outro lado, em que um jornalista compincha resolva constituir-se assistente com o fito de martelar interditos. Quem sabe se para o julgamento de Oliveira Costa, imolado no altar do BPN. Nessa altura, aposto, colunistas conspícuos vão arrancar as vestes.
O que me parece extraordinário é o blasé da Comissão de Carteira Profissional de Jornalista. José António Cerejo escreveu no jornal que a sua intervenção como assistente no processo teve como único objectivo obter informação. Fraude, portanto. Atento o comportamento de tanta gente (agentes judiciários incluídos), nada me espanta. Como precedente, não está mal.
Fico sentado à espera de novo(s) caso(s), visando gente do outro lado, em que um jornalista compincha resolva constituir-se assistente com o fito de martelar interditos. Quem sabe se para o julgamento de Oliveira Costa, imolado no altar do BPN. Nessa altura, aposto, colunistas conspícuos vão arrancar as vestes.
DEDO NO GATILHO
O caso da herança Lúcio Tomé Feteira tem todos os ingredientes para uma boa história: Brasil, milhões, filha descontente com o testamento do pai, assassinato da amante do empresário falecido em 2000. É natural que os jornais explorem o assunto.Rosalina Ribeiro, 74 anos, viveu com Tomé Feteira durante mais de 30 anos. Em Março de 2010, a justiça portuguesa reconheceu os direitos sucessórios. Entretanto, Rosalina foi assassinada com três tiros (em Dezembro de 2009), depois de ter jantado com Duarte Lima, seu advogado. Olímpia de Menezes, filha de Tomé Feteira, contesta o testamento. Ficou piursa quando soube que 80% da herança se destina à junta de freguesia de Vieira de Leiria, com o objectivo de criar uma Fundação com o nome do empresário. Aproveita para acusar Rosalina de desviar mais de 30 milhões de euros das contas do pai. Parte desse dinheiro (cinco milhões) teria sido transferido para uma conta de Duarte Lima, a título de honorários. Estamos a falar de um processo com dez anos. Aparentemente, estes são os factos.
A parte que eu não percebo é a sanha contra Duarte Lima. Não conheço Duarte Lima de lado nenhum, excepto de o ver na tv. Duarte Lima faz parte da clique cavaquista que, dizem as más-línguas, enriqueceu muito depressa. Nos anos 1980, o Indy foi-lhe às canelas por causa de uma quinta em Sintra, ou coisa parecida. Duarte Lima mandou a política às urtigas e sobreviveu a um cancro. Os media voltaram a ferrar os dentes. Duarte Lima (como Armando Vara, Oliveira Costa, Manuel Godinho, etc.) não tem pedigree. Tem muito dinheiro mas, para o eixo Lapa/Cascais, isso não chega. E os jornalistas “independentes”, sempre cautelosos em se tratando de gente da Quinta da Marinha ou da Quinta Patiño, já não tiram o dedo do gatilho.
A parte que eu não percebo é a sanha contra Duarte Lima. Não conheço Duarte Lima de lado nenhum, excepto de o ver na tv. Duarte Lima faz parte da clique cavaquista que, dizem as más-línguas, enriqueceu muito depressa. Nos anos 1980, o Indy foi-lhe às canelas por causa de uma quinta em Sintra, ou coisa parecida. Duarte Lima mandou a política às urtigas e sobreviveu a um cancro. Os media voltaram a ferrar os dentes. Duarte Lima (como Armando Vara, Oliveira Costa, Manuel Godinho, etc.) não tem pedigree. Tem muito dinheiro mas, para o eixo Lapa/Cascais, isso não chega. E os jornalistas “independentes”, sempre cautelosos em se tratando de gente da Quinta da Marinha ou da Quinta Patiño, já não tiram o dedo do gatilho.
DAR O BRAÇO A TORCER
Dou o braço a torcer: não temos informação livre! Nenhum jornal, rádio, televisão ou blogue disse o que salta à vista: do Tabuaço ao Bordalhame-de-Baixo os fogos andam a ser ateados por assessores do PS. Alguns até cometem blogues! Ainda agora identifiquei dois, mascarrados de pompiers. (Vai em francês porque um fez seminários com Lacan, dos quais nunca se refez; e o outro mantém um gancho na École Normale Supérieure.) Andamos nós a pagar impostos para isto! Para esta rapaziada andar de tocha acesa entre o Lux e o Andanças. Não pode ser! Que é dos colunistas sem medo do meu país?
Imbecilcopédia I
Tirado daqui
A estupidez é um estado de graça, um privilégio, um dom divino. Pode-se chegar a ser inteligente, mas estúpido, não. Estúpido nasce-se.
Pitigrilli
O onanista (não confundir com o Alienista, de Machado de Assis)
Pitigrilli
O onanista (não confundir com o Alienista, de Machado de Assis)
No início de 1994, um grupo fundamentalista islâmico da Jordânia lançou uma campanha terrorista que incluía ataques a sítios seculares, tais como livrarias, videoclubes ou supermercados que vendessem álcool. No final de uma manhã de 1 de Fevereiro, Eid Saleh al Jahaleen, um canalizador de 31 anos, entrou no cinema Salwa na cidade de Zarga. O cinema era famoso por exibir filmes pornográficos oriundos da Turquia. Jahaleen, que alegadamente recebera 50 dólares para colocar uma bomba, nunca tinha visto pornografia e ficou completamente paralisado, embasbacado, perante as imagens que via projectadas na tela. Quando a bomba explodiu, Jahaleen ainda se encontrava sentado numa das cadeiras da sala. Perdeu apenas as pernas.
2010/08/02
2010/08/01
Cervejas artesanais
Comentário a propósito deste post:
O problema é que nós não temos uma verdadeira cultura da cerveja.É normal que ao pedir uma Super Bock e para além da pergunta estúpida "quer copo?" vir um copo com o logo da Sagres ou com copo cilíndicro de wiskhy(?) ou até um copo com o logo da Sumol. Na Bélgica, na Holanda, na Alemanha, na República Checa isto é impensável.Já viram alguém, nestes países, beber da garrafa, esse desporto nacionalmente disseminado?Acrescente-se os copos gelados e secos. Enquanto nos países citados se molham os copos para retirar gas à cerveja aqui, quanto mais seco melhor, suponho que com o intuito de, depois, melhor arrotar , já sem falar da absurda baixa temperatura a que é normalmente servida.O mesmo se aplica ao wiskhy com gelo.O que o pessoal gosta mesmo é álcool.Seja de que maneira fôr.
O problema é que nós não temos uma verdadeira cultura da cerveja.É normal que ao pedir uma Super Bock e para além da pergunta estúpida "quer copo?" vir um copo com o logo da Sagres ou com copo cilíndicro de wiskhy(?) ou até um copo com o logo da Sumol. Na Bélgica, na Holanda, na Alemanha, na República Checa isto é impensável.Já viram alguém, nestes países, beber da garrafa, esse desporto nacionalmente disseminado?Acrescente-se os copos gelados e secos. Enquanto nos países citados se molham os copos para retirar gas à cerveja aqui, quanto mais seco melhor, suponho que com o intuito de, depois, melhor arrotar , já sem falar da absurda baixa temperatura a que é normalmente servida.O mesmo se aplica ao wiskhy com gelo.O que o pessoal gosta mesmo é álcool.Seja de que maneira fôr.
Comentário a propósito deste post:
Há anos que tenho o privilégio de comprar vinho directamente ao produtor, no caso, um amigo e colega de longa data que, embora sendo um produtor de razoável dimensão, todos os anos reserva para os amigos o "puro da uva" sempre com a classificação de Bom a muito Bom.Por ser o "puro da uva" não leva conservantes o que implica o seu consumo de colheita a colheita.Depois de tentar todos os recipientes possíveis, garrafas tipo Borgonha com rolhas de cortiça, garrafas "cinco estrelas" com vedante de plástico tipo "carica", garrafões com rolha e vedante de plástico, depósitos de aço inoxidável com torneira "garantidamente estanques" e uma considerável quantidade de litros de vinho estragado ou passado veio,, finalmente o "sétimo céu".Compram-se em qualquer cooperativa agrícola os Bag-in-Box, enchem-se tendo o cuidado de ao colocar a rolha/torneira tirar todo o ar dentro do saco.A caixa e o saco custam mais ou menos dois euros (cinco litros).Armazena-se e consome-se sem estragar uma gota.Quando chega ao fim deita-se fora e pró ano compram-se outros.Outra questão a não desprezar é a de que o espaço de armazenamento é substancialmente reduzido.Já agora um pormenor. Na minha terra os "artistas", poupadinhos, já inventaram um alicate que retira a rolha/torneira sem a danificar o que permite lavar o saco e reutilizar.Quanto aos grandes produtores estão, como diz, a cometer um grande erro até porque os custos de engarrafamento julgo que são menores.Aqui há tempos soube que numa garrafeira da capital se estava a vender vinho de qualidade (comprovadamente) superior de um produtor (não digo o nome) que por a máquina de engarrafar normal se ter avariado se socorreu do expediente e vendeu o produto a 1,5€ o litro em embalagens destas.Sorte para quem tem informação previligiada. Pr mim não quero outra coisa.
Há anos que tenho o privilégio de comprar vinho directamente ao produtor, no caso, um amigo e colega de longa data que, embora sendo um produtor de razoável dimensão, todos os anos reserva para os amigos o "puro da uva" sempre com a classificação de Bom a muito Bom.Por ser o "puro da uva" não leva conservantes o que implica o seu consumo de colheita a colheita.Depois de tentar todos os recipientes possíveis, garrafas tipo Borgonha com rolhas de cortiça, garrafas "cinco estrelas" com vedante de plástico tipo "carica", garrafões com rolha e vedante de plástico, depósitos de aço inoxidável com torneira "garantidamente estanques" e uma considerável quantidade de litros de vinho estragado ou passado veio,, finalmente o "sétimo céu".Compram-se em qualquer cooperativa agrícola os Bag-in-Box, enchem-se tendo o cuidado de ao colocar a rolha/torneira tirar todo o ar dentro do saco.A caixa e o saco custam mais ou menos dois euros (cinco litros).Armazena-se e consome-se sem estragar uma gota.Quando chega ao fim deita-se fora e pró ano compram-se outros.Outra questão a não desprezar é a de que o espaço de armazenamento é substancialmente reduzido.Já agora um pormenor. Na minha terra os "artistas", poupadinhos, já inventaram um alicate que retira a rolha/torneira sem a danificar o que permite lavar o saco e reutilizar.Quanto aos grandes produtores estão, como diz, a cometer um grande erro até porque os custos de engarrafamento julgo que são menores.Aqui há tempos soube que numa garrafeira da capital se estava a vender vinho de qualidade (comprovadamente) superior de um produtor (não digo o nome) que por a máquina de engarrafar normal se ter avariado se socorreu do expediente e vendeu o produto a 1,5€ o litro em embalagens destas.Sorte para quem tem informação previligiada. Pr mim não quero outra coisa.
Comentário a propósito deste post:
Tomar o nosso círculo de colegas na profissão, nomeadamente quando se adivinha pelo texto ser de nível superior ou o nosso círculo de amigos como representativo do nível cultural do país é, desculpe a expressão, um erro infantil e perigoso.
Tomar o nosso círculo de colegas na profissão, nomeadamente quando se adivinha pelo texto ser de nível superior ou o nosso círculo de amigos como representativo do nível cultural do país é, desculpe a expressão, um erro infantil e perigoso.
O Euro e o Cinema
Comemtário a prpósito deste post:
Pois é. O pessoal tem a memória curta.A penas um comentário sobre o "curiosamente" que colocou sobre a conversão para euros na sua ida ao cinema em 3 de Julho de 1999.O Euro foi lançado como moeda escritural e contabilística em 1 de janeiro de 1999 e como moeda corrente em 1 de janeiro de 2002 (três anos depois).Fui um dos responsáveis, com muito orgulho, da migração do Escudo para o Euro, nomeadamente na migração das Caixas Automáticas, da rede pública (Multibanco) e da rede privada do maior banco nacional, realizada numa única noite (2001/12/31) o que provocou o espanto e a admiração de toda a Europa, particularmente da sua comunidade bancária. Fique o registo.
Pois é. O pessoal tem a memória curta.A penas um comentário sobre o "curiosamente" que colocou sobre a conversão para euros na sua ida ao cinema em 3 de Julho de 1999.O Euro foi lançado como moeda escritural e contabilística em 1 de janeiro de 1999 e como moeda corrente em 1 de janeiro de 2002 (três anos depois).Fui um dos responsáveis, com muito orgulho, da migração do Escudo para o Euro, nomeadamente na migração das Caixas Automáticas, da rede pública (Multibanco) e da rede privada do maior banco nacional, realizada numa única noite (2001/12/31) o que provocou o espanto e a admiração de toda a Europa, particularmente da sua comunidade bancária. Fique o registo.
"Mérito de encontrar solução para a Vivo foi da PT"
Entrevista de Zeinal Bava ao DN sobre o negócio da VIVO/OI.
Com gestores como estes Portugal não precisa de ter medos. De nada.
Podem os pequeninos dizerem cobras e lagartos.
Fica a competência.
Acompanhemos futuros desenvolvimentos.
Com esta equipa a PT é imbatível.
Chapeau.
Aqui fica a entrevista:
Após o anúncio do meganegócio com a Telefónica, no dia em que se celebravam 12 anos sobre a compra da Vivo, o presidente executivo da PT revela os bastidores da maior disputa em que uma empresa portuguesa esteve envolvida. A intervenção do Governo, a diplomacia económica e a luta dos accionistas.
A venda da Vivo e a entrada na Oi foi um melhor negócio para os accionistas do que para a PT?
PT é dos accionistas, que numa Assembleia Geral decidiram que deveriam vender a Vivo a um valor x. Provavelmente, a 6,5 mil milhões teriam decidido não vender.
Mas foi um bom negócio para a PT?
Sim, porque vendeu-se a Vivo por um valor que é reconhecido por todos como extremamente atractivo e houve uma realização de valor importantíssima para a PT.
Mas não venderam pelo valor que estava proposto...
Venderam mais alto ainda! Correu--se o risco de ficarmos numa situação em que a PT pudesse até vender aquele activo mais baixo quando a Telefónica retira a proposta. Uma parte do mercado ficou preocupada também que com o processo de litigação pudesse resultar nisso.
Foi o seu caso?
Eu não fiquei preocupado porque desde o início considerámos que as ameaças que tinham sido feitas pela Telefónica não passavam de táctica negocial. Temos estilos diferentes - ninguém pode levar a mal - e o deles pautou por ser um discurso bastante hostil. Achámos que era táctico o não terem dado uma extensão à PT quando o Conselho de Administração solicitou mais 12 dias.
Esses 12 dias foram um risco calculado porque sabia que o diálogo não estava interrompido?
Sabíamos que tínhamos de resolver isto rapidamente, porque sendo estas empresas cotadas não podemos ter processos como este abertos por um tempo indeterminado. A incerteza no mercado gera desconto, e este destrói valor. Como a Telefónica trabalha para criar valor, e o caminho da litigação iria destruí-lo, seria penoso para ambas as partes fazê-lo.
Mesmo com valores tão altos em jogo?
Porque iria fazer que a Vivo fosse impactada e a Portugal Telecom iria fazer tudo para que tal não acontecesse. A situação de os dois accionistas controladores não se entenderem iria ter reflexos no negócio, até porque o Brasil é muito competitivo e podia levar à perda de quota e de valor da Vivo. Por isso, tínhamos de ser rápidos, para um lado ou para o outro.
No dia do veto da golden share, entendeu que Ricardo Salgado não se posicionaria contra mas que poderia convergir numa solução futura?
Somos uma empresa cotada e há uma gestão profissional. Eu fui bastante claro: a golden share é um tema do Conselho de Administração da PT e, nesse contexto, temos de ser fiéis aos nossos valores. Que são muito claros: a empresa é dos accionistas e temos de respeitar os estatutos da PT e a independência dos vários órgãos. Neste caso, o que se viu foi que a Mesa da Assembleia Geral teve um entendimento diferente do do Conselho de Administração.
Deixou sempre perceber que esta operação não era do género em que a golden share deveria ser accionada!
Não é uma opinião minha mas do Conselho de Administração da PT. O primeiro-ministro até deu uma entrevista ao El País em que diz que respeitava a minha opinião - leia-se, do Conselho - mas também temos de respeitar a dele. No fim, a opinião que importa é a do presidente da Mesa, que considerou que a golden share seria aplicável.
Acha que a utilização pelo Governo da golden share poderia ter sido prejudicial para o negócio?
O que posso dizer é que o que anunciámos [a venda da Vivo] esta semana foi bem recebido pelo mercado. Que incorporou duas coisas muito importantes: o valor oferecido pela Telefónica é extremamente generoso, provavelmente o mais alto já pago no sector das telecomunicações; e a Comissão Executiva e o Conselho de Administração tudo fizeram para encontrar uma boa solução para todos e viabilizou a transacção que os accionistas tinham votado.
Com o empurrão da golden share?
A golden share permitiu estarmos com um preço em cima da mesa que é melhor do que o que esteve na Assembleia Geral. Permitiu também colocar a fasquia alta porque é preciso garantir escala para a PT, e a transacção da Oi resolve esse problema estratégico. Por isso, o mercado elogiou tanto o negócio.
A venda da Vivo não se consumaria imediatamente. A PT não teria, com ou sem veto, tempo para se posicionar na Oi?
No mundo dos negócios, o timing é das coisas mais importantes que existem. A Oi estaria lá sempre, mas se a PT não tivesse tomado uma decisão rápida talvez iniciássemos um processo de litigação com a Telefónica por três a cinco anos e não tivéssemos oportunidade para poder fazer nada. O que se viu foi que a Portugal Telecom sempre negociou a venda da Vivo numa posição de força porque nunca quisemos vender a Vivo; sempre considerámos o Brasil estratégico e não precisamos de dinheiro.
Quando deixou a Vivo de ser um activo essencial para a PT?
A Vivo nunca deixou de o ser. Houve uma oferta irrecusável por parte dos accionistas da PT, e ninguém deve levar a mal o que eles pensam.
Enquanto defendia o interesse accionista, resistindo à pressão do preço da Telefónica, gostou de ver Ricardo Salgado e Nuno Vascon- celos a falar com a Telefónica em paralelo?
Não vou comentar esses temas, e acho que muito já foi dito sobre isso.
Não fragilizou a posição da PT?
Não. Os accionistas quando falam é para fazer bem às empresas nas quais têm capital. Por isso trabalho sempre com base nos pressupostos de que a empresa é dos accionistas e que estamos cá para os servir.
Nem se sentiu incomodado?
Nada! Acho que neste processo o Conselho de Administração mostrou um nível de coesão exemplar num período muito enervante, porque estamos a falar de muito dinheiro. As pessoas falam com alguma ligeireza sobre "podia-se dizer não a isto ou àquilo" mas há imensa gente que tem muito dinheiro investido na PT, para além do interesse estratégico da PT para o País.
Notou-se alguma divergência entre as suas posições e as de Henrique Granadeiro.
Não, nunca. Estivemos sempre de mão dada. Naturalmente que Henrique Granadeiro é na PT a pessoa que mantém a relação com a golden share e o âmbito de preocupação que tem é mais abrangente do que o meu nesse aspecto. Acho que temos uma convivência até bastante atípica de chairman/CEO porque já foi meu presidente, eu já fui presidente dele, e fomos colegas. Ou seja, estivemos nas trincheiras juntos e sem o formalismo que caracteriza essas relações noutras empresas.
A relação com a golden share por parte de Henrique Granadeiro facilitou a concretização do negócio?
O presidente da Mesa da Assembleia Geral considerou que o artigo 15 era aplicável e a golden share foi exercida. Definiu um objectivo, expressou uma preocupação. O que nos cabe fazer? Ser pragmáticos, ir para o terreno e dizer "como consigo endereçar estas preocupações?" Fizemo-lo e acreditamos que a Oi pode ser uma solução. Talvez não seja a única, mas no mercado brasileiro acreditamos que será.
Diz que a activação da golden share serviu para aumentar o preço e dar tempo à PT para se organizar no sentido de arranjar uma alternativa de escala e crescimento no Brasil. Isso teria acontecido sem o seu uso?
No mundo dos negócios, há sempre um tempo para as coisas acontecerem. Hoje, estamos confrontados com um facto e não faz sentido especular mais sobre isso. O facto é que em 30 dias foram criadas condições para a PT encontrar uma solução que agradou a todas as partes. Este é um mérito da PT, porque o conseguiu.
Esse não é um mérito da golden share mas da PT...
Repito, foi criada uma situação na Assembleia Geral. A solução mais simples era vender nessa altura mas, na maior parte das vezes, a solução mais simples não é necessariamente a melhor! Basta ver como a comunicação social retratou bem o resultado nesta semana, para se entender que a resolução deste tema da Portugal Telecom tem muitos vencedores. Essa é a parte positiva.
O que é muito raro num negócio desta dimensão?
Fico muito contente por poder dizer que a golden share está satisfeita porque sente que a PT é uma empresa com escala, que vai manter um projecto internacional ambicioso e que as condições que foram criadas foram suficientes para se sentir confortável com a transacção. Fico satisfeito em ver os meus accionistas a dizer "se dia 30 tínhamos vendido por um preço, agora conseguimos um ainda melhor!".
Mesmo que parcelado?
Uma parte do dinheiro vem diferida no tempo, mas conseguimos um preço de referência ainda maior! Fico contente ao ouvir os trabalhadores dizerem "as nossas cinco metas continuam intactas". Já recebi não sei quantos e-mails e sms de colaboradores a dizer "grande desafio esse da Oi, conte comigo!" Os desafios são muito bons para as empresas.
A golden share serviu, neste caso, para garantir os interesses da empresa e dos accionistas?
Não estou de acordo com essa leitura. É uma leitura malandra que está a fazer - entendo-a, mas não acho que esteja correcta. Vi alguém na televisão a dizer "têm de explicar porque é que a PT é uma empresa estratégica para o País". Essa pessoa tem de olhar para o relatório e contas da PT e ver qual é o volume de negócios e quantas pessoas empregamos directa e indirectamente! O talento não vai atrás de onde há trabalho mas de comunidades e de lugares onde as pessoas se sentem à vontade e encontram boas condições de vida.
A venda da Vivo esteve em perigo?
Quando, no dia 16, a Telefónica decidiu não estender a oferta foram muitas as pessoas que disseram que "a probabilidade de a transacção da Vivo acontecer é um terço". Quem conhece a situação da Oi sabe que a probabilidade de alguma empresa conseguir entrar naquele núcleo de controlo era mínima. Ou seja, o que estava em curso tinha uma probabilidade de 10% na melhor das hipóteses, e conseguimos fazê-lo em tempo absolutamente recorde. Nestes 30 dias encontrou-se uma solução que era boa para todas as partes e, por isso, pode dizer-se que estamos num projecto em que todos se sentem vencedores.
Que não era expectável a seguir à Assembleia Geral?
Eu disse imediatamente a seguir à Assembleia Geral: "Vamos continuar a trabalhar para fazer o melhor para todos os accionistas." Naturalmente, quando falamos de todos os accionistas não podemos descurar o accionista que tem direitos especiais, e acho que conseguimos fazê-lo também. Foi fruto de um trabalho de equipa enorme da Comissão, da Administração e também dos accionistas da PT, que ajudaram muito.
Que teve um final feliz?
E nada melhor do que o que aconteceu. Dá-me um prazer enorme ver Sócrates contente, Ricardo Salgado contente, a Ongoing contente, os meus fundos internacionais contentes... A direcção é a mesma, o caminho é outro, vamos celebrar o resultado final em vez de lamuriar. Conseguimos transformar algo que foi visto como uma contrariedade numa oportunidade para fazer o melhor para todas as partes. Vamos virar a página.
A OPA da Telefónica sobre a PT está posta definitivamente de parte ou ainda é um próximo passo?
Falou-se bastante na OPA no contexto da operação da Vivo e, num determinado momento, até deram uma entrevista no Financial Times em que afloravam essa hipótese. O tema da Vivo está resolvido, daqui a 60 dias a Vivo estará vendida, e penso que esse capítulo está encerrado. O contexto em que a Telefónica falou nisso já mudou.
Não haverá, em princípio, mais essa pretensão por parte da Telefónica?...
Uma empresa cotada está sempre sujeita a OPA! Se não demonstrarmos ao mercado e aos nossos accionistas que somos uma equipa de gestão que consegue criar valor acima da média, então teremos um problema. Se, como empresa, não conseguirmos justificar ao mercado que estamos a gerir os activos para maximizar o valor, alguém virá e fará isso melhor do que nós. São as regras do jogo.
Em que moldes a parceria com a Telefónica poderá continuar?
Será uma parceria muito mais tecnológica e diferente, não de capital.
Nem no terreno, por exemplo, Marrocos?
Nesse aspecto a Telefónica também já deu a entender que prefere ser dona dos activos a 100% ou com o seu controlo absoluto. A PT não é um investidor financeiro mas estratégico e quando investimos não é para mandar mas para poder aportar o nosso valor acrescentado.
Com a Oi, a PT passa de uma participação na empresa líder no móvel para o 4.º operador. Perde muito?
Não posso contrariar essa realidade da nossa posição agora. De facto, a Vivo é líder no móvel e a Oi no fixo, mas em 2006, quando foi a OPA da Sonae, a Vivo era um problema e queriam vender a Vivo. Dissemos que não! Nesse momento chegou a falar-se de que o único activo bom para ficar era Marrocos, e tomámos uma decisão - das mais difíceis que algum dia tomámos -, que foi dizer: "Separa-se a empresa de cabo, criamos um concorrente e mantemos a Vivo." Propus isso ao Conselho e a PT demonstrou uma característica muito rara nos incumbentes das telecomunicações: a capacidade de gestão e de engenharia. E por isso temos de ter confiança na capacidade da PT de olhar para a Vivo e acreditar que vamos contribuir com o nosso valor acrescentado nos novos parceiros brasileiros. Nós somos pagos para criar valor!
Como é que a Telefónica se defende do conhecimento da PT sobre a Vivo?
A Vivo era controlada conjuntamente. O mérito é da PT, da Telefónica, dos trabalhadores e da equipa executiva da Vivo. A PT não tem o monopólio de tudo o que foi feito...
O interesse económico na Vivo era de 29% enquanto na Oi é de 22,38%. Não é andar para trás?
A Vivo é mais pequena que a Oi- -Telemar. Por isso, quando se olha para a apropriação de resultados, é praticamente ela por ela. Há um interesse económico mais pequeno, mas a Oi é maior que a Vivo, até em termos de resultados. Deste modo, naquilo que é um dos nossos objectivos estratégicos - atingir dois terços do negócio fora de Portugal - estamos na mesma direcção, só escolhemos um caminho diferente.
Agora, é hora de os accionistas pedirem dividendos...
As empresas cotadas têm de encontrar o equilíbrio entre todos os accionistas; para as condições dos trabalhadores; nos projectos internos de responsabilidade social; garantir que pagamos a tempo e horas aos fornecedores; dar mais e melhores serviços a preços mais baratos e, naturalmente, temos de remunerar os nossos accionistas!
Os dividendos irão satisfazer os accionistas?
Prometemos 57,5 cêntimos durante três anos. Já o pagámos o ano passado, este ano vamos fazê-lo e para o ano também. Em relação ao diferencial de 3,75 mil milhões que temos pelo que a Telefónica vai pagar pela Vivo, o Conselho de Administração ainda não teve tempo de qualidade para decidir. Estes últimos cem dias foram infernais, mas o Conselho de Administração tem experiência e passado. Sempre cumprimos o que prometemos ao mercado.
Não serão distribuídos mais dividendos além dos 57,5 cêntimos?
Não é isso que estou a dizer. A forma como a PT pretende usar os 3,75 é algo que o Conselho de Administração da PT ainda vai analisar.
Poderá passar por reinvestimento?
A única coisa que dissemos formalmente é que este dinheiro poderá ser usado para múltiplos objectivos: investimento, reduzir dívida, meter no fundo de pensões, pagar dividendos... Por uma questão legal, até usámos uma definição muito ampla para o Conselho de Administração ter toda a flexibilidade e poder tomar a melhor decisão tendo em conta os interesses de todos e dos vários projectos que a PT tem.
A percepção é de que os accionistas queriam fazer dinheiro já!
Acho que essa ideia é completamente errónea. Da mesma maneira que não acredito que as soluções simples são sempre as melhores e, de facto, na Assembleia Geral da PT estávamos confrontados com uma que era muito mais simples do que a que encontrámos. Esta, no entanto, resolveu um problema de escala e estratégico que podíamos potencialmente vir a ter. Acho essa forma de falar do tema errada. Os accionistas investem nas empresas para ganhar dinheiro, mas ele tem um custo de oportunidade e tem de ser remunerado adequadamente, mas cabe ao Conselho de Administração definir as prioridades.
Os accionistas protestaram quando o Governo vetou o negócio porque não viam retorno rápido. Querem ou não ganhos imediatos?
A PT dá-se ao luxo de poder dizer que tem uma estrutura de capital relativamente estável há muitos anos, e mesmo o Estado, directa ou indirectamente - deixando de lado a questão da golden share - tem mantido desde sempre uma participação na PT de 10%. O grupo Espírito Santo é um grande aliado da PT desde sempre, nos bons e maus momentos, e nunca o vi vender uma acção quando a moeda brasileira se desvalorizou. Por essa razão, neste processo da Vivo não houve praticamente transformação da base de capital da PT.
Mas a estrutura accionista da PT vai manter-se igual ou alterar?
Eu vejo a estrutura accionista da PT como muito estável há vários anos.
Mesmo quando sai a Telefónica?
Não altera, apenas houve uma mudança de parceria estratégica. Que poderá levar a uma alteração, porque, ao abrigo do acordo que fizemos com a Oi, esta pode vir a comprar até 10% da PT.
E há a dispersão da Telefónica que aconteceu antes da Assembleia.
Dizem que venderam e, tecnicamente, fizeram-no. Hoje só têm 2%. Assim sendo, acho que a nossa estrutura de capital tem sido estável.
Ainda há o BES, a Ongoing... Vão manter-se todos?
Cada um poderá responder por si e eu não posso falar por eles. Mas também temos tido um grupo de accionistas de referência internacionais que estão na PT há muitos anos. Não devíamos qualificar português/não-português, porque existem accionistas de longo prazo e esses incluem investidores internacionais que estão no capital da PT há muitos anos.
O Presidente Lula da Silva colocou a questão da identidade nacional da Oi, e disse que vai continuar "brasileira da silva". Como é que olha para esta frase do Presidente do Brasil?
As empresas de telecomunicações em todos os mercados são empresas de referência. A postura da PT não vai contra este tipo de afirmações e, apesar de podermos nomear o presidente executivo da Vivo por direito, a PT decidiu por um brasileiro!
Roberto Lima, que ficou muito satisfeito com este negócio!
Claro! Viu realizados 7,5 mil milhões na participação da Vivo... Em 2006, 100% da empresa valia oito mil milhões, passados quatro anos um terço vale 7,5. Caramba! Foi uma forte valorização.
O sucesso desta negociação apaga a má imagem da PT no negócio falhado de compra de parte da TVI?
Esse tema foi tratado devidamente nas várias comissões parlamentares de inquérito, aonde tive o privilégio de ir três vezes e o Henrique duas. Acho que a PT prestou toda a informação e tudo o que tinha a dizer fê-lo no fórum certo - a casa da democracia. Sempre dissemos que os conteúdos são muito importantes, e a nossa visão continua a ser a de que a diferenciação na televisão por subscrição tem de estar assente em cima deles mas também de funcionalidades. Os clientes Meo nunca vão ficar prejudicados, nem que tenhamos de pagar mais caro pelos conteúdos. Continuamos a lamentar o facto de a Autoridade da Concorrência ainda não ter olhado para o tema de conteúdos com a urgência e a importância que merece.
Nos momentos de maior tensão e menor racionalidade no negócio PT/Telefónica, em algum momento pensou "estou farto disto, quero ir embora"?
Não, nunca.
Nunca teve vontade de desistir?
Não. Somos uma equipa de gestão profissional e a maior parte já trabalha na PT há oito, nove, dez anos - já estou na PT há quase 12 anos - e com paixão e convicção nas nossas ideias e objectivos claramente definidos. Pela dimensão do País, o nosso ponto de partida, temos um défice em relação a Espanha, a França porque eles são 40 milhões, 60 milhões, 70 milhões e nós um mercado de dez milhões mas não prescindimos dos nossos cinco objectivos, que retratam a ambição da empresa. E não é só na Comissão Executiva, é da empresa toda.
Não teme os desafios?
A razão pela qual nunca senti medo é porque tenho muita confiança na PT e nas pessoas que trabalham aqui. Isso permite-nos sempre colocar a fasquia bem alta e permite-me dizer sempre que não tenho plano A e plano B. Só tenho um plano, e executamo-lo. E temos uma cumplicidade com o Conselho de Administração que permite assumir objectivos agressivos e dar uma guinada ao leme para ajustar se for necessário.
Herdeiro de Aécio
O blog de A. teixeira é incontornável.
A qualidade dos seus textos sempre com "links" oportunos, a intelectualidade segura se percebe por detrás e a variedade de temas abordados faz com que ressalte da mediocridade que impera na blogoesfera.
Chapeau.
A qualidade dos seus textos sempre com "links" oportunos, a intelectualidade segura se percebe por detrás e a variedade de temas abordados faz com que ressalte da mediocridade que impera na blogoesfera.
Chapeau.
Duas ou três coisas
O blog de Francisco Seixas da Costa nosso homem em Paris é um caso sério de equilibrio político, decência democrática, saber de experiência feito, humildade e humor.
Sempre com uma escrita escorreita é já um blog de referência nesta tão maltratada blgoesfera.
Bem haja.
Chapeau.
Sempre com uma escrita escorreita é já um blog de referência nesta tão maltratada blgoesfera.
Bem haja.
Chapeau.
Culpados públicos
Retirado daqui com uma "chapelada" enorme:
Não é novidade para ninguém que há hoje figuras, que já eram ou se tornaram públicas, ligadas a processos judiciais, que surgem como irremediavelmente "condenadas" no imaginário popular, por muito que as imputações preliminares ou as reais acusações a eles dirigidas acabem por ser não provadas.
Não se diga que esta atitude resulta apenas de deficiente formação cultural ou que está restrita a um mundo opinativo excessivamente condicionado pela comunicação social "tabloidizada". Quem, de entre nós, não acha que este ou aquele autarca "tem uma cara chapada" de corrupto, que aqueloutro dirigente desportivo "tem mesmo pinta de vígaro" ou que uma ou outra personagem "tem um arzinho" de pedófilo? Por muito que controlemos, em público, esses nossos sentimentos íntimos, a verdade é que há juízos de convicção que já formámos e que, no fundo, acabarão por condicionar o próprio modo como avaliamos o desfecho dos processos.
Com frieza, teremos de concluir que esta subjetividade apreciativa tem a ver com o modo como fomos "digerindo" aquilo que nos entrou portas dentro, pelas televisões ou pelos jornais, com a leitura que, intimamente ou em grupo, fomos fazendo de tomadas de posição ou das notícias vindas a público. Nestas se incluem as fugas ao segredo de justiça, os "leaks" promovidos, a "desinformação" provocada, além da má-fé e, quiçá, alguma informação verdadeira.Mas - assumamos! - há outros fatores que nos condicionam a todos, uns de ordem política e ideológica, outros de mera simpatia ou antipatia, seja pelos sujeitos em causa, seja pelos veículos mediáticos ou pelos "opinion makers" que titularam posições nos diversos casos. Ninguém está virgem neste contexto, por mais neutral que possa julgar-se.
Duas entidades se salientam, para o bem e para o mal, em todas estas histórias: a justiça e a comunicação social.
Da primeira, o mínimo que se pode dizer é que perdeu, em poucos anos, um prestígio que, historicamente, mantinha no imaginário público, devida ou indevidamente. A ânsia de expressão mediática, as contradições entre os seus agentes e instâncias, a frequente propensão para jogar com os "media", a assumida lentidão de procedimentos e a comum dilação de atos formais - tudo isso se traduz hoje numa imagem degradada do estado da justiça portuguesa, provavelmente muito superior àquele que corresponde à sua real situação. Aquilo que deveria ser um esteio de estabilidade psicológica na nossa sociedade transformou-se, infelizmente, num fator de polémica, de aparente arbítrio e de real insegurança.
Quanto à comunicação social, assistimos, nos últimos anos, à perversa absolutização do chamado "direito à informação", uma espécie de desígnio divino assumido, às vezes, por uns histéricos estagiários com um "corneto" ou um gravador na mão, arautos do interesse de uma opinião pública de que alguém os arvorou representantes. Vida privada e privacidade, presunção de inocência e distinção entre estádios de investigação, tudo isso são pormenores despiciendos para quem apenas tem como objetivo fazer títulos ou "peças" sonantes. O que ainda me espanta é que alguns profissionais, criados noutra escola deontológica, que levou anos a "ganhar" o seu estatuto em democracia, estejam agora a "mandar às urtigas" os princípios em que foram formados, mercantilizando-se para vender minutos de imagem ou páginas de jornais.
A conjugação da ação destas duas instâncias conduz a que, no termo dos processos, quando as conclusões da justiça não são aquelas a que já se haviam "sentenciado" algumas personalidades, a conclusão dos opinadores de sofá ou de "snack-bar" seja: "estão todos feitos uns com os outros", "eles sempre se safam" e "isto é tudo a mesma pandilha".
Será assim? Não é. Há culpados e inocentes, há vigaristas soltos, figuras caluniadas e, provavelmente, alguns injustiçados. Este é, contudo, o preço de uma democracia frágil, pouco educada e com um nível cívico muito baixo. É o retrato do Portugal de hoje, do país que somos. E, se não somos melhores, a nós e só a nós o devemos.
Não é novidade para ninguém que há hoje figuras, que já eram ou se tornaram públicas, ligadas a processos judiciais, que surgem como irremediavelmente "condenadas" no imaginário popular, por muito que as imputações preliminares ou as reais acusações a eles dirigidas acabem por ser não provadas.
Não se diga que esta atitude resulta apenas de deficiente formação cultural ou que está restrita a um mundo opinativo excessivamente condicionado pela comunicação social "tabloidizada". Quem, de entre nós, não acha que este ou aquele autarca "tem uma cara chapada" de corrupto, que aqueloutro dirigente desportivo "tem mesmo pinta de vígaro" ou que uma ou outra personagem "tem um arzinho" de pedófilo? Por muito que controlemos, em público, esses nossos sentimentos íntimos, a verdade é que há juízos de convicção que já formámos e que, no fundo, acabarão por condicionar o próprio modo como avaliamos o desfecho dos processos.
Com frieza, teremos de concluir que esta subjetividade apreciativa tem a ver com o modo como fomos "digerindo" aquilo que nos entrou portas dentro, pelas televisões ou pelos jornais, com a leitura que, intimamente ou em grupo, fomos fazendo de tomadas de posição ou das notícias vindas a público. Nestas se incluem as fugas ao segredo de justiça, os "leaks" promovidos, a "desinformação" provocada, além da má-fé e, quiçá, alguma informação verdadeira.Mas - assumamos! - há outros fatores que nos condicionam a todos, uns de ordem política e ideológica, outros de mera simpatia ou antipatia, seja pelos sujeitos em causa, seja pelos veículos mediáticos ou pelos "opinion makers" que titularam posições nos diversos casos. Ninguém está virgem neste contexto, por mais neutral que possa julgar-se.
Duas entidades se salientam, para o bem e para o mal, em todas estas histórias: a justiça e a comunicação social.
Da primeira, o mínimo que se pode dizer é que perdeu, em poucos anos, um prestígio que, historicamente, mantinha no imaginário público, devida ou indevidamente. A ânsia de expressão mediática, as contradições entre os seus agentes e instâncias, a frequente propensão para jogar com os "media", a assumida lentidão de procedimentos e a comum dilação de atos formais - tudo isso se traduz hoje numa imagem degradada do estado da justiça portuguesa, provavelmente muito superior àquele que corresponde à sua real situação. Aquilo que deveria ser um esteio de estabilidade psicológica na nossa sociedade transformou-se, infelizmente, num fator de polémica, de aparente arbítrio e de real insegurança.
Quanto à comunicação social, assistimos, nos últimos anos, à perversa absolutização do chamado "direito à informação", uma espécie de desígnio divino assumido, às vezes, por uns histéricos estagiários com um "corneto" ou um gravador na mão, arautos do interesse de uma opinião pública de que alguém os arvorou representantes. Vida privada e privacidade, presunção de inocência e distinção entre estádios de investigação, tudo isso são pormenores despiciendos para quem apenas tem como objetivo fazer títulos ou "peças" sonantes. O que ainda me espanta é que alguns profissionais, criados noutra escola deontológica, que levou anos a "ganhar" o seu estatuto em democracia, estejam agora a "mandar às urtigas" os princípios em que foram formados, mercantilizando-se para vender minutos de imagem ou páginas de jornais.
A conjugação da ação destas duas instâncias conduz a que, no termo dos processos, quando as conclusões da justiça não são aquelas a que já se haviam "sentenciado" algumas personalidades, a conclusão dos opinadores de sofá ou de "snack-bar" seja: "estão todos feitos uns com os outros", "eles sempre se safam" e "isto é tudo a mesma pandilha".
Será assim? Não é. Há culpados e inocentes, há vigaristas soltos, figuras caluniadas e, provavelmente, alguns injustiçados. Este é, contudo, o preço de uma democracia frágil, pouco educada e com um nível cívico muito baixo. É o retrato do Portugal de hoje, do país que somos. E, se não somos melhores, a nós e só a nós o devemos.
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Francisco Seixas da Costa,
Freeport
Rua José Saramago, Porto
Comentários a propósito deste post:
Com adecisão de não dar o nome de José Saramago a uma Rua do Porto, esta cidade passa ser a do Portugal dos Pequeninos ou, como escrevia Jonh Updike no posfácio de Winesburg, Ohio de Sherwood Anderson "uma cidade de gente mirrada".
Resposta da Margarida:
O Porto é muito mais do que uma decisão e seguramente nem se engrandece com um acto, nem se diminui com outro.No Porto existem muitas pessoas.Muitas políticas, que não só as camarárias e muitas sensibilidades.É terrível liquidar uma cidade (uma localidade qualquer, que seja) por uma questão assim...Falem mal de tudo, mas da minha cidade é que não! :('gente mirrada' aqui?!Era o que havia de faltar!Homessa!
Último comentário:
Lamento que a Margarida tenha tomado a nuvem por Juno.
Também posso dizer que Lisboa que é a minha cidade também têm gente mirrada. A mesma que impediu que fosse dado o nome do General Spínola a uma Avenida.
Com adecisão de não dar o nome de José Saramago a uma Rua do Porto, esta cidade passa ser a do Portugal dos Pequeninos ou, como escrevia Jonh Updike no posfácio de Winesburg, Ohio de Sherwood Anderson "uma cidade de gente mirrada".
Resposta da Margarida:
O Porto é muito mais do que uma decisão e seguramente nem se engrandece com um acto, nem se diminui com outro.No Porto existem muitas pessoas.Muitas políticas, que não só as camarárias e muitas sensibilidades.É terrível liquidar uma cidade (uma localidade qualquer, que seja) por uma questão assim...Falem mal de tudo, mas da minha cidade é que não! :('gente mirrada' aqui?!Era o que havia de faltar!Homessa!
Último comentário:
Lamento que a Margarida tenha tomado a nuvem por Juno.
Também posso dizer que Lisboa que é a minha cidade também têm gente mirrada. A mesma que impediu que fosse dado o nome do General Spínola a uma Avenida.
PEDRO BEAKER COELHO
Comentãrio apropósito deste post:
Numa analogia ainda mais rebuscada que tal recomendar ao Coelho (Pedro Passos) a leitura da tetralogia do verdadeiro Rabbit. A do John Updike.
Numa analogia ainda mais rebuscada que tal recomendar ao Coelho (Pedro Passos) a leitura da tetralogia do verdadeiro Rabbit. A do John Updike.
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