2010/08/12

O estado a que isto chegou


Tirado daqui


O FOLHETIM


O Público anda a publicar em folhetim o affaire Freeport. A iniciativa não tem sentido. 1) José António Cerejo não é Bob Woodward; 2) o jornal anda a repetir em prosa cinzenta tudo o que a concorrência divulgou (a cores) nos primeiros nove meses do ano passado; 3) excepto vinte bloggers e caterva de comentadores, ninguém quer saber do Freeport para nada. O plot atingiu um patamar de delírio tal em que ninguém sabe quem é quem. E as revelações do jornal não acrescentam nada que não se soubesse. Chicana por chicana, ao menos na TVI era em stereo.
O que me parece extraordinário é o blasé da Comissão de Carteira Profissional de Jornalista. José António Cerejo escreveu no jornal que a sua intervenção como assistente no processo teve como único objectivo obter informação. Fraude, portanto. Atento o comportamento de tanta gente (agentes judiciários incluídos), nada me espanta. Como precedente, não está mal.
Fico sentado à espera de novo(s) caso(s), visando gente do outro lado, em que um jornalista compincha resolva constituir-se assistente com o fito de martelar interditos. Quem sabe se para o julgamento de Oliveira Costa, imolado no altar do BPN. Nessa altura, aposto, colunistas conspícuos vão arrancar as vestes.


DEDO NO GATILHO


O caso da herança Lúcio Tomé Feteira tem todos os ingredientes para uma boa história: Brasil, milhões, filha descontente com o testamento do pai, assassinato da amante do empresário falecido em 2000. É natural que os jornais explorem o assunto.Rosalina Ribeiro, 74 anos, viveu com Tomé Feteira durante mais de 30 anos. Em Março de 2010, a justiça portuguesa reconheceu os direitos sucessórios. Entretanto, Rosalina foi assassinada com três tiros (em Dezembro de 2009), depois de ter jantado com Duarte Lima, seu advogado. Olímpia de Menezes, filha de Tomé Feteira, contesta o testamento. Ficou piursa quando soube que 80% da herança se destina à junta de freguesia de Vieira de Leiria, com o objectivo de criar uma Fundação com o nome do empresário. Aproveita para acusar Rosalina de desviar mais de 30 milhões de euros das contas do pai. Parte desse dinheiro (cinco milhões) teria sido transferido para uma conta de Duarte Lima, a título de honorários. Estamos a falar de um processo com dez anos. Aparentemente, estes são os factos.
A parte que eu não percebo é a sanha contra Duarte Lima. Não conheço Duarte Lima de lado nenhum, excepto de o ver na tv. Duarte Lima faz parte da clique cavaquista que, dizem as más-línguas, enriqueceu muito depressa. Nos anos 1980, o Indy foi-lhe às canelas por causa de uma quinta em Sintra, ou coisa parecida. Duarte Lima mandou a política às urtigas e sobreviveu a um cancro. Os media voltaram a ferrar os dentes. Duarte Lima (como Armando Vara, Oliveira Costa, Manuel Godinho, etc.) não tem pedigree. Tem muito dinheiro mas, para o eixo Lapa/Cascais, isso não chega. E os jornalistas “independentes”, sempre cautelosos em se tratando de gente da Quinta da Marinha ou da Quinta Patiño, já não tiram o dedo do gatilho.


DAR O BRAÇO A TORCER


Dou o braço a torcer: não temos informação livre! Nenhum jornal, rádio, televisão ou blogue disse o que salta à vista: do Tabuaço ao Bordalhame-de-Baixo os fogos andam a ser ateados por assessores do PS. Alguns até cometem blogues! Ainda agora identifiquei dois, mascarrados de pompiers. (Vai em francês porque um fez seminários com Lacan, dos quais nunca se refez; e o outro mantém um gancho na École Normale Supérieure.) Andamos nós a pagar impostos para isto! Para esta rapaziada andar de tocha acesa entre o Lux e o Andanças. Não pode ser! Que é dos colunistas sem medo do meu país?

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