2012/03/24

TGV? Temos a Torre de Belém


Paulo Gaião no Expresso.
Não posso estar mais de acordo. Eu também já andei de TGV.

Agora que o sonho TGV acabou, convém fazer o epitáfio. Portugal fica mais isolado do centro da Europa e vê Espanha integrada com os seus 2900 Km de comboio de alta velocidade, ligada a Paris, Berlim, Viena. É mais um exemplo do mau governo à portuguesa. Confundimos a discussão sobre a necessidade deste projecto estratégico com a incapacidade de o fazer sem negociatas e corrupção. Confundimos o problema de não termos dinheiro para o TGV com a questão de não gastarmos mal e investirmos nele. Confundimos obras públicas que nos ligam entre nós, auto-estradas, o CCB, a ponte Vasco da Gama com obras que nos abrem melhor a Europa. Confundimos a questão da falta de passageiros do TGV com a ideia que o avião nos basta para sairmos daqui. Confundimos os preços altos do TGV com a falta de jeito para fazermos promoções e sabermos vender o que é nosso. Confundimos o argumento novo-riquista e megalómano do TGV com o nosso próprio provincianismo.
O grande problema é nunca termos andado de TGV. Sentarmo-nos lá dentro, irmos até Madrid em 4 horas, entrarmos com as malas que quisermos no comboio um minuto antes, nem sentirmos a velocidade porque tudo é suave, poder almoçar ou jantar calmamente na carruagem-restaurante e dar um passeio de quase um km pelo comboio inteiro. O preço? Ainda hoje, o sítio da rede europeia de TGV tinha promoções Paris-Turim, distância de quase 1000 Km a... 25 euros. Lisboa-Madrid podia ficar por 15 euros. E o comboio cheio.
O grande problema é nunca termos tido vida fora daqui. O mundo é do Minho aos Algarves. E pára em Lisboa. Como dizia nos Maias Ega para consolar Carlos da Maia, chegado de Paris e reconhecendo no Chiado, encostados às mesmas portas quem lá deixara há dez anos, temos a Avenida da Liberdade e... Hem?... Já não é mau. Mais o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém, a bruma dos viajantes que fomos.

Aeroporto na Alta do Lumiar

Agora nem TVG nem novo aeroporto. O da Portela vai continuar a ocupar a cidade, com cada vez mais voos, minuto a minuto a rasarem o Campo Grande e a Alta do Lumiar. Com mais barulho e poluição. Até nos cair um avião no prato. E, lá dentro, na Portela, uma manta de retalhos, um espaço desequilibrado, onde tanto parece que estamos no brinquinho de Munique como no Congo, cheio de cadeiras estafadas, passadeiras que não existem em corredores de cem metros, escadas rolantes que não funcionam. Também aqui, no novo aeroporto, em Alcochete, na Ota, em Figo Maduro, onde quer que fosse, confundimos tudo.

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