2010/02/21

Cortiça versus Screwcaps

O montado, a rolha e o vinho

Desde há uns meses tem-se desenrolado uma discussão muito interessante sobre a utilização de vedantes alternativos à rolha de cortiça. Participei ativamente e fui-me sentindo cada vez menos confortável na minha posição inicial.

O raciocínio dominante é: garrafas de vinho podem ser vedadas com rolhas - rolhas são feitas de cortiça - cortiça vem de montados de sobro - montados são ecossistemas ricos em biodiversidade - a biodiversidade é um valor prioritário a preservar. Conclusão: as garrafas de vinho devem ser vedadas com rolhas para preservar a biodiversidade.

Surgiu um produtor de vinho que disse não à rolha e optou por uma cápsula de alumínio. Segue uma troca de posts e e-mails, com posições claras e distintas, e nas quais se misturaram uma série de aspetos relacionadas com o tema, envolvendo pessoas fora da população residente do blog Ambio e foi muito enriquecedor.

Mas, depois disto tudo, não consigo livrar-me de um sentimento de desorientação. Os produtores de cortiça vendem aos produtores de rolhas que vendem aos produtores de vinho que vendem aos consumidores finais. Um elo nesta cadeia salta fora. Caem-lhe em cima os consumidores finais, os produtores de rolhas e os produtores de cortiça, acusando-o de não proteger o sistema produtivo da cortiça e ser o grande violador da biodiversidade. Mas será que o produtor de vinho é moralmente obrigado a proteger um sistema que não é seu, mas do qual é somente um cliente? Não seria mais justo, se houver uma real preocupação por parte dos consumidores finais, destes em primeiro lugar cairem em cima dos produtores de cortiça que aparentemente não são capazes de proteger o sistema produtivo que os consumidores tanto valorizam? Não deviam ser primeiro os produtores de cortiça a autoquestionarem-se o que (não) fizeram para que o sistema que tanto valorizam se tornou frágil e em risco de desaparecer? Não serão em primeiro lugar os detentores dos montados os responsáveis pela sua preservação? E, ao fim e ao cabo, não devia ser o mercado de vinho a determinar qual a relevância da escolha do vedante para o consumidor final, através de um processo de seleção que eliminava simplesmente as ofertas que não apoiam a proteção do montado? Se é tão evidente que o mercado de vinhos já regressou para as tradicionais rolhas, então bastava ficar sorridentemente a assistir à falência de Champalimaud e amigos. Ou estarei a ver mal?

Por fim, para mim, tudo se resume ao post inicial do HPS: eu não compro.

E está tudo dito.

Henk Feith

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