2010/01/16

De facto, o fato é a última coisa que me incomoda no acordo ortográfico

De facto, o fato é a última coisa que me incomoda no acordo ortográfico
É um facto: os anti-acordo vivem no terror de confundirem fato com fato. Devo relembrá-los que palavras homónimas e palavras homógrafas são uma constante da língua portuguesa, qualquer que seja o seu sabor, e nenhum acordo ou desacordo “resolverá” esse “problema” só para vos tranquilizar.

Tipo:
Eu molho no molho sem sujar o molho de chaves.
Viver na sede do meu concelho não me mata a sede de conselho.
Mesmo com uma luva rota, lá vou mantendo a rota.
O Rei optou por um corte de cabelo em plena corte.
Vou colher um ramo de salsa, antes de comer uma colher de sopa.
Todos os dias canto no canto do chuveiro.
Nem sempre me rio quando cruzo o rio Tejo.

E também:
Ainda que tenha o lápis roído, não me faz confusão o ruído dos carros na rua.
Uso uma faca de aço para cortar a carne que depois asso.

Agora: todos os portugueses e brasileiros entenderam lindamente cada frase acima, pois não é verdade?

ACTUALIZAÇÃO: leitores alertaram para o facto de o “c” cair quando é mudo, o que não se aplica ao facto. De facto. Rectificação feita no artigo.

2 comentários:

Luís Pontes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Luís Pontes disse...

Gostaria de juntar que, sendo as homofonias e homonimias um facto em qualquer língua, não deixam de ser também uma "imperfeição" que, ad limitum, pode dar origem a episódios até anedóticos, vide a sua anedota do chá verde "ó" preto?
O que (me)custa a perceber é que um acordo que deveria ser simplificante e clarificante, seja o introdutor de novos elementos homófonos e homónimos.
DEixando o estafado "facto/fato" que, de qualquer maneira e segundo o espírito do acordo, continuará a grafar-se "facto" em Portugal, dado que o c não é mudo, tem-se normalmente esquecido que a função das consoantes mudas, não é chatear como muitos parecem pensar, mas sim indicar que a vogal imediatamente antes é uma vogal aberta. A sua supressão dará origem a um empobrecimento evidente da capacidade descritória da língua escrita que, em última análise é um código para a verdadeira língua, a viva, a dos falantes.
"Ele chamou um corretor", refere-se a quem lhe trata dos negócios da Bolsa ou a quem lhe corrige algo?