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2010/06/27

Retirado daqui

Relembro ou apresento duas conhecidas séries de televisão que tiveram por tema central a classe média brasileira. Uma chamava-se Sai de Baixo (1996-2002), cujo elenco aparece (compreensivelmente...) na fotografia de cima; a outra Os Normais (2001-2003), em que a acção se centrava à volta de um casal típico da classe (abaixo). Ambas passaram em Portugal, embora com sucessos distintos. Qualquer das séries retrata a mesma classe social, embora com regionalismos a que só os próprios brasileiros seriam sensíveis: paulistana a primeira, carioca a segunda. Porém, os estilos de humor distintos davam a entender como as duas haviam sido concebidas a pensar em audiências diferentes.
Enquanto o humor de Sai de Baixo é essencialmente primário, o de Os Normais pretende ser, não só mais sofisticado¹, como, a espaços, sexualmente picante. Concretamente, e para quem tenha visto as séries, é a diferença que vai das inseguranças de Vani (Fernanda Torres) em Os Normais comparadas com as inanidades de Magda (Marisa Orth) em Sai de Baixo. A primeira série é uma caricatura apelando a uma certa cumplicidade com a própria classe social que é caricaturada, enquanto a segunda, de traços mais grossos e ridículos, destina-se a fazer rir a classe socialmente abaixo da retratada. O humor de Sai de Baixo torna-se mais exportável e a série teve muito mais sucesso em Portugal.
Mas o meu favoritismo vai todo para Os Normais onde há momentos na série em que se conseguem equilíbrios que considero memoráveis. Os primeiros minutos do vídeo abaixo são um exemplo disso: o casal Vani e Rui (Fernanda Torres/Luiz Fernando Guimarães) estão na sauna, compostamente vestidos de toalha, quando se lhes vem juntar a sua amiga Patrícia (Graziella Moretto), um exemplar da bomba loura burra que Vani toma por uma ameaça e que aparece na cabine totalmente nua… Não vale a pena contar o resto, mas chamo a atenção para o cuidado com que as cenas foram trabalhadas para que se mantenham num registo humorístico estrito evitando o pornográfico… apesar da amiga ser periquituda.
Já tinha no meu léxico alguns termos "rebarbativos".
Nenhum chega aos calcanhares de "periquituda".