Com a devida vénia ao Fogareiro:
Ideias para Lisboa
As manhãs de sábado são de pouco trabalho e muitas leituras. Não dispenso o semanário «SOL» e muito em especial as crónicas do seu director, José António Saraiva. A última foi dedicada a Lisboa, que vive momento eleitoral. Transcrevo-a, com a devida vénia, neste cantinho pessoal.Em lugar de falar dos candidatos, parece-me mais útil aproveitar esta época eleitoral para fazer sugestões para Lisboa.Já fiz algumas, no passado, sem quaisquer resultados.Uma delas foi a cobertura da Rua Garrett, da Rua do Carmo e da Rua Nova do Almada com uma grande clarabóia de vidro, à semelhança da galeria Victor Emanuel, em Milão, tornando o Chiado um grande centro comercial de lojas tradicionais.Outra foi a transferência da Feira do Livro para a zona do Rossio, Praça da Figueira e Martim Moniz, ligando as três praças, chamando mais gente para o centro da cidade e dando-lhe um ambiente de festa – ao mesmo tempo que a feira beneficiaria da presença de esplanadas e lojas à volta (abertas à noite), que a tornariam mais atractiva.E o facto de aquela zona ser abrigada e plana, ao contrário do Parque Eduardo VII, que é inclinado e ventoso, seria um factor de comodidade para os visitantes.Hoje vou defender outra ideia, não tão original, mas que mudaria a parte ocidental de Lisboa.Um dos problemas que esta zona tem é a difícil ligação ao rio.Embora se estenda ao longo do Tejo, a faixa que vai do Terreiro do Paço a Algés não tem praticamente contacto com ele.Porquê?Essencialmente, porque a linha férrea funciona como uma barreira de arame farpado que corta o acesso à zona ribeirinha dos lisboetas que moram nessa parte da cidade.Os pontos de ligação resumem-se a meia dúzia de passagens aéreas e dois túneis, o que além de pouco prático é ridículo numa frente tão extensa.Por isso, em algumas propostas para Lisboa, defendeu-se o desnivelamento da linha férrea naquele troço – investimento que se verificou, porém, ser pouco rentável para a companhia.E o problema foi-se arrastando sem solução à vista.Sucede que, agora, a solução está na cara.Só não a vê quem não quer.Quando a linha de Cascais foi construída, no princípio do século XX, a zona a Ocidente do Cais do Sodré não passava de «arrabaldes».Havia lá meia dúzia de palácios, outras tantas quintas, uns monumentos erguidos na praia em memória de tempos passados – como os Jerónimos – e pouco mais.Entretanto, Lisboa cresceu para aí.A Exposição do Mundo Português, em 1940, atraiu gente e serviços.Alcântara, Belém, Pedrouços e Algés encheram-se de vida.E hoje, 100 anos passados, não faz qualquer sentido aquela zona ser atravessada por uma linha de caminho-de-ferro.Tratando-se de uma zona urbana, tem de ser bem servida por transportes urbanos.Juntando 1+1, ou seja, a vantagem de «enterrar» a linha férrea e a necessidade de dotar a parte ocidental de transportes «de cidade», o que resulta?Obviamente, acabar com o comboio entre o Cais do Sodré e Algés, e prolongar até aqui o Metropolitano.Julgo que obra mais óbvia não existe em Lisboa.Com a vantagem de ser uma obra de futuro.Porque, ao contrário de certas áreas da cidade que estão relativamente estabilizadas, a parte ocidental está em constante evolução.A zona ribeirinha, mesmo com os actuais condicionamentos, vai-se desenvolvendo – como se vê pelos bares e restaurantes das docas em Alcântara, pela animação na área de Belém e pelas instalações previstas para o local da Docapesca.O turismo não pára todos os anos de aumentar – e em Belém situa-se parte importante da oferta turística lisboeta, como o Museu dos Coches, o Palácio de Belém, os Jerónimos, o CCB, a Torre de Belém, o Padrão dos Descobrimentos, o Museu de Marinha, o Museu de Arqueologia e Etnografia, o Planetário. Finalmente, há projectos imobiliários de grande fôlego previstos para Alcântara, e novas urbanizações que têm surgido no lugar ocupado por antigas fábricas, no tempo em que ali era uma zona industrial.Saída do troço da linha da CP entre o Cais do Sodré e Algés, e sua substituição por uma linha de Metropolitano – aqui fica mais uma sugestão para Lisboa. Com poucas esperanças de que venha a ser aproveitada.
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